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Eleição 'perigosa' faz Kapitalo segurar apostas

Matthew Winkler, Julia Leite e Felipe Marques

21/09/2018 11h26

(Bloomberg) -- A Kapitalo Investimentos, gestora de multimercados que superou 98% dos seus pares nos últimos cinco anos, pisou no freio diante das eleições de outubro.

Carlos Woelz, o co-fundador da gestora, diz que, apesar da desalavancagem e melhora dos balanços das empresas, há muita coisa jogando contra o Brasil agora para ser otimista. Em particular, as eleições e um ciclo de crescimento global que está chegando ao fim.

"Muitas más notícias já foram descontadas nos preços, mas não estou muito comprado agora", disse ele em entrevista em seu escritório em São Paulo. "Se estivéssemos em outro ponto no ciclo global, eu enfrentaria o risco político. Se estivéssemos em um ponto diferente com o risco político, eu enfrentaria o ciclo global. Mas os dois juntos são demais para mim."

Woelz não está sozinho em evitar fazer uma grande aposta no Brasil. Analistas e investidores do UBS ao JPMorgan Chase afirmam que é melhor ficar de fora por enquanto. Os fundos negociados em bolsa vêm perdendo dinheiro e o ETF iShares MSCI Brasil caiu mais de 10% em agosto, quando registrou saída recorde. O real já caiu 19% neste ano, o pior desempenho entre as principais moedas.

O fundo Zeta Master FI Multimercado, de R$ 7,3 bilhões, gerido por Woelz, é um dos multimercados de melhor desempenho nos últimos cinco anos no Brasil, com retorno total de 217%, segundo dados compilados pela Bloomberg. O fundo teve ganho de 24% até agora este ano, superando a maioria de seus pares.

Posições

No mercado de ações, Woelz é mais otimista nos setores de papel e celulose, logística, serviços públicos, saúde, mineração e bancos - principalmente aqueles que são menos dependentes da economia brasileira ou são vistos como peças mais defensivas. Ele está vendendo ações de consumo, educação e imóveis.

O fundo também está comprado em dólar, uma reversão da posição que montou no início deste ano.

"A eleição é mais polarizada e, portanto, mais perigosa de se jogar", disse ele. "Se você tiver um mau resultado, será muito ruim."

Woelz não disse quais candidatos vê como pior alternativa, mas como a maioria dos investidores ele está preocupado que o próximo governo possa recuar em iniciativas para cortar gastos, aumentar impostos e reforçar as contas fiscais.

O Brasil está emergindo de sua pior recessão em um século, período em que perdeu o grau de investimento à medida que dólar atingiu nível recorde e o Ibovespa caiu para o menor nível desde a crise financeira global.

Woelz diz que é muito difícil adivinhar o resultado da eleição. Ele aponta que os investidores veem favoravelmente as propostas econômicas dos centristas Marina Silva e Geraldo Alckmin, enquanto o conservador Jair Bolsonaro também se tornou mais atraente à medida que a campanha progrediu.

Bolsonaro, capitão da reserva do exército que lidera as pesquisas, tem propostas que são "menos preocupantes" do que eram em janeiro, em grande parte devido à sua parceria com o economista Paulo Guedes, disse Woelz. Ele encontra menos pontos favoráveis entre os candidatos de esquerda, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador Ciro Gomes.

"Não é como se não houvesse uma grande oportunidade no Brasil, acho que existe", disse Woelz. "Mas talvez seja uma enorme oportunidade de venda."

Para contatar o editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Matthew Winkler em N York, mwinkler@bloomberg.net;Julia Leite em São Paulo, jleite3@bloomberg.net;Felipe Marques em São Paulo, fmarques10@bloomberg.net