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Pedidos de demissão inesperados abalam Louis Dreyfus

Andy Hoffman, Javier Blas e Alfred Cang

25/09/2018 15h21

(Bloomberg) -- A Louis Dreyfus, a trading de commodities controlada pela bilionária Margarita Louis-Dreyfus, entrou em turbulência depois do inesperado pedido de demissão de seus dois principais executivos.

O CEO Gonzalo Ramírez Martiarena deixou a empresa após três anos no cargo "para buscar outras oportunidades", anunciou a empresa em comunicado. Ele será substituído pelo experiente Ian McIntosh, com três décadas de empresa. Já o diretor financeiro Armand Lumens pediu demissão por "motivos pessoais" e será substituído por Federico Cerisoli.

As saídas repentinas dão continuidade aos anos de instabilidade na diretoria da empresa, que teve cinco CEOs desde 2013 e enfrenta dificuldades devido à depressão dos mercados agrícolas. As mudanças coincidem com a necessidade da herdeira russa da família Louis-Dreyfus de encontrar cerca de US$ 1 bilhão para comprar as participações dos demais integrantes da família.

"Não lembro de ter visto em nenhuma trading saídas simultâneas do CEO e do diretor financeiro", disse Jean-François Lambert, ex-executivo bancário de trade finance do HSBC Holdings e consultor do setor. "Este é um prenúncio de novos anúncios, que provavelmente não serão positivos."

Natalia Reiter, porta-voz da LDC em Genebra, disse que as saídas de Ramírez e Lumens são "pura coincidência e não têm relação" entre si. As mudanças também não têm relação com os próximos resultados financeiros da LDC, que serão divulgados no início do mês que vem, disse.

O anúncio das mudanças coincidiu com uma reunião de altos executivos da LDC em Barcelona para uma sessão de estratégia previamente agendada, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Alguns gerentes ficaram surpresos com a notícia porque Ramírez havia comandado reuniões administrativas nesta semana, disseram as pessoas.

Surpresa

Os executivos bancários de alguns dos maiores credores da LDC -- que fornecem os bilhões de dólares em financiamento ao comércio de commodities necessários para transportar remessas de grãos, oleaginosas e algodão pelo mundo -- também foram pegos de surpresa pela mudança, disseram.

McIntosh é a quinta pessoa a assumir o cargo mais elevado da empresa de forma permanente ou interina desde 2013. Houve um sexto indicado, Mayo Schmidt, que chegou a ser nomeado CEO, no fim de 2014, mas um anúncio inesperado na véspera do Ano-Novo informou que ele não assumiria mais o cargo.

As mudanças surgem após um período de condições de trading difíceis para a empresa e para outras tradings de commodities agrícolas devido a colheitas abundantes e à falta de volatilidade dos preços. A LDC teve uma série de outras mudanças executivas nos últimos cinco anos, incluindo a saída da maior parte da equipe de trading de grãos no ano passado.

Sob o comando de Ramírez, um argentino que trabalhou 13 anos na LDC, a empresa vendeu ativos, incluindo o negócio de trading de metais, e demitiu funcionários para reduzir custos. Além disso, a LDC resgatou a subsidiária brasileira de processamento de açúcar Biosev com uma injeção de capital de US$ 1,05 bilhão em março.

Repórteres da matéria original: Andy Hoffman em Genebra, ahoffman31@bloomberg.net;Javier Blas em Londres, jblas3@bloomberg.net;Alfred Cang em Cingapura, acang@bloomberg.net