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Total prevê petróleo a US$ 100 e diz que isso pode não ser bom

Ben Sharples e Francine Lacqua

27/09/2018 11h41

(Bloomberg) -- A Total faz parte do coro cada vez maior que vê o petróleo a US$ 100 no horizonte. Mas a gigante francesa do setor de energia não está comemorando.

O CEO Patrick Pouyanne vê elementos de apoio, como as iminentes sanções ao Irã e as interrupções na Venezuela, que estão tirando oferta do mercado e elevando os preços novamente rumo aos três dígitos pela primeira vez desde 2014, disse, em entrevista à Bloomberg TV.

"Não tenho certeza de que seja uma boa notícia" para a economia global, disse Pouyanne. "Nem mesmo para o setor de petróleo, porque quando o preço sobe muito abre-se a porta para os concorrentes" e a demanda cairá, disse.

Apesar de o rali do petróleo ter estabilizado um setor pulverizado pelo colapso de 2014, há uma preocupação crescente de que a alta possa atrapalhar o crescimento global. O movimento pode ser particularmente prejudicial para as economias emergentes, nas quais a desvalorização cambial está tornando caras as importações denominadas em dólares. Ao mesmo tempo, considera-se que a concorrência dos veículos de nova energia tomará uma fatia da demanda global futura.

O petróleo Brent ficou acima de US$ 80 neste mês pela primeira vez em quase quatro anos e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) sinalizou que não tomará medidas rápidas para conter os preços. As iminentes sanções dos EUA às vendas de petróleo do Irã provavelmente causarão um impacto maior no mercado do que da última vez, disse o CEO da BP, Bob Dudley, nesta semana.

'Leva tempo'

A trading de grande porte Mercuria Energy Group afirmou nesta semana que os preços do barril podem disparar para mais de US$ 100 no quarto trimestre e a concorrente Trafigura Group acredita que isso acontecerá no início de 2019. Mas nem todos estão convencidos. O Goldman Sachs pensa que será necessário outro choque de oferta além do Irã para que o petróleo volte a esse patamar.

Os EUA descartaram a possibilidade de liberar petróleo dos estoques de emergência para evitar que os preços disparem quando as sanções iranianas começarem, em novembro. O secretário de Energia, Rick Perry, disse que a liberação de petróleo bruto da Reserva Estratégica de Petróleo teria um "impacto muito pequeno e de curto prazo" e que outros produtores podem compensar as perdas.

Qualquer ajuda da Arábia Saudita, líder da Opep, para suprir o déficit de oferta levará tempo, segundo Pouyanne, da Total, que afirma que vem anunciando o retorno do barril a US$ 100 desde junho.

"No nosso setor, não basta apertar um botão e o óleo flui", disse Pouyanne. "É mais complexo que isso, por isso leva tempo."

Repórteres da matéria original: Ben Sharples em Hong Kong, bsharples@bloomberg.net;Francine Lacqua em Londres, flacqua@bloomberg.net