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Está difícil manter segredo do mercado de dívida do Japão

Issei Hazama

22/10/2018 13h23

(Bloomberg) -- O mercado de títulos corporativos do Japão tem uma característica esquisita: muitas vendas de dívida que, segundo os bancos, foram bem-sucedidas, na verdade, não foram. Pode estar ficando mais difícil esconder esse segredo.

Os subscritores não conseguiram vender pelo menos 29 por cento das ofertas de títulos corporativos em setembro, o dobro da média dos últimos seis meses, segundo informações compiladas pela Bloomberg com base em mais de 400 entrevistas com investidores, subscritores e emissores.

Ofertas da Japan Airlines, da Japan Tobacco, da Honda Finance e da Idemitsu Kosan estavam entre elas, disseram algumas dessas pessoas, que pediram para não serem identificadas discutindo um assunto delicado. Porta-vozes das quatro empresas afirmaram que não foi isso o que seus bancos lhes disseram.

Não é uma falha do sistema financeiro que os subscritores absorvam parte de uma oferta. Eles são pagos para fazer exatamente isso. Mas a falta de transparência pode criar problemas.

O objetivo de ocultar os títulos não vendidos é encobrir a falta de demanda, preservar relacionamentos comerciais com emissores ou dar aos subscritores espaço para agradar clientes preferenciais, vendendo-lhes os títulos restantes com descontos mais tarde, de acordo com as pessoas familiarizadas com o assunto. Isso pode representar um dano aos investidores que pagaram mais pelo título na oferta inicial, e também se isso reduzir ainda mais o preço de mercado.

Um aumento na atividade de emissão incentivou essa prática em setembro. As empresas tinham se abstido de vender títulos depois que o Banco do Japão fez um ajuste na política em julho, mas depois se empenharam para emitir dívida a partir do final de agosto, quando os rendimentos dos títulos se estabilizaram.

Segundo porta-vozes da Japan Airlines, da Japan Tobacco, da Honda Finance e da Idemitsu, os subscritores lhes informaram que houve mais pedidos do que títulos disponíveis em suas respectivas transações. Porta-vozes dos cinco maiores subscritores de títulos corporativos japoneses até o momento neste ano fiscal - Mizuho Securities, Daiwa Securities, Nomura Securities, SMBC Nikko Securities e Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities - preferiram não comentar.

A Bloomberg News vem monitorando os títulos não vendidos no Japão desde julho de 2017, obtendo as informações através de entrevistas com emissores, investidores e subscritores.

Alguns dos prêmios de rendimento dos títulos não vendidos subiram mais do que o mercado como um todo. O diferencial dos títulos da Japan Tobacco com vencimento em 2038, por exemplo, subiu quatro pontos-base desde a venda no mês passado, e o rendimento extra da dívida de 20 anos da Japan Airlines aumentou 1,5 ponto-base. Os diferenciais dos títulos corporativos japoneses ficaram estáveis desde meados de setembro, de acordo com um índice ICE BofAML.

Órgãos reguladores e um grupo do setor admitiram que algumas das práticas comerciais no mercado de dívida corporativa do Japão não são transparentes. Em um relatório de 2010, a Japan Securities Dealers Association afirmou que havia críticas de que as condições dos títulos às vezes divergiam dos níveis de mercado devido a informações imprecisas dos subscritores sobre a demanda pelos títulos.