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Itália expõe batalha crescente entre populistas e executivos

Chiara Albanese e Marine Strauss

25/10/2018 15h39

(Bloomberg) -- A cidade italiana de Rosignano deve sua existência a um imponente complexo químico à beira-mar, a oeste de Florença. A escola de Ensino Fundamental tem o nome do fundador da empresa, Ernest Solvay; a instalação é a maior empregadora da região; e as praias tropicais de areia branca -- resultado da liberação de cálcio e calcário da unidade -- atraem turistas em busca de sol, que se divertem à sombra das duas enormes torres de resfriamento da fábrica centenária.

Mas agora há problemas no paraíso. No ano passado, a Solvay injetou mais 120 milhões de euros (US$ 137 milhões) na fábrica, uma das mais antigas da empresa fora de sua base belga, para melhorar a eficiência energética e os padrões ambientais. Neste mês, o gerente da Solvay para a Itália, Marco Colatarci, se sentou para discutir futuros investimentos com um membro do governo populista que assumiu em junho. Ele foi embora sem respostas para perguntas importantes.

Colatarci conta que o governo não ofereceu as garantias que ele buscava para proteger os investimentos de empresas internacionais na Itália, particularmente aquelas como a Solvay, que dependem muito de energia. Especificamente, a extensão do gasoduto TAP foi submetida a revisão do governo, o que pode adiar um projeto que já garantiu bilhões em financiamento e que promete reduzir os custos de energia. "A política energética desse governo pode tornar a unidade de produção menos competitiva", alertou Colatarci. Ele considera que a posição da coalizão é uma evidência de que as preocupações da indústria não são levadas a sério.

Esse é um sentimento compartilhado muito além da Itália, já que em todo o mundo as empresas estão enfrentando um ambiente político mais imprevisível. A natureza da democracia promove a chegada e a partida de governos de diferentes matizes, mas a ascensão do populismo e do nacionalismo de extrema-direita está polarizando os eleitores, alimentando a incerteza política e fazendo soar alertas corporativos em lugares como os EUA e o Brasil e por toda a Europa.

"O populismo alimenta medos em vez de fornecer soluções reais", disse Pierre Gattaz, presidente da BusinessEurope, um lobby com sede em Bruxelas que representa empresas de 34 países. "Isso não é apenas uma ameaça à indústria, mas também ao nosso modelo econômico e social."

As empresas no Reino Unido estão com dificuldade para lidar com as dúvidas relacionadas ao acordo do Brexit e na Alemanha algumas começaram a alertar contra a ameaça do populismo de extrema-direita aos negócios. O CEO da Siemens, Joe Kaeser, pediu que sua equipe se posicionasse publicamente contra o extremismo, afirmando que as imagens de distúrbios anti-imigração testemunhadas no leste da Alemanha no fim de agosto prejudicavam a imagem internacional do país. Esse é um assunto importante para o presidente francês, Emmanuel Macron -- que se autoproclama como o principal baluarte contra o populismo --, que usou um discurso televisionado para o país, na semana passada, para exortar a esforços para enfrentar os "tempos difíceis" que se aproximam, já que a Europa corre o risco de cair no extremismo.

O problema da Solvay pode ser visto em toda a Europa, onde líderes corporativos estão tendo cada vez mais dificuldade para encontrar a resposta certa para os governos populistas que estão mudando a relação com as empresas -- ou para os partidos populistas de oposição que estão dando o tom do debate político.

Em Rosignano, Colatarci espera que o governo acabe ouvindo seu apelo para a política energética. Ele diz que isso é fundamental para a sobrevivência da fábrica em um ambiente cada vez mais competitivo.

"Esperamos que o governo tome decisões que apoiem a indústria italiana", disse Colatarci. Isso é "o motor de crescimento da nossa economia".