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Para Wall Street, Bolsa dos EUA precisa cair mais para Fed agir

Natasha Doff

25/10/2018 10h49

(Bloomberg) -- Investidores globais que navegam em um oceano de perdas estão obcecados com um número mágico: o preço de execução do chamado Powell Put, ou seja, quanto mais os mercados acionários precisam perder para o presidente do banco central americano, Jerome Powell, decidir recuar no plano de aperto monetário.

Por ora, o coro em Wall Street repete que o tombo de mais de US$ 2 trilhões nas bolsas dos EUA neste mês ainda não foi suficiente para restringir as condições financeiras a ponto de motivar uma postura mais branda do Federal Reserve.

Isso apesar de os mercados de eurodólar apontarem redução das apostas nos acréscimos de juros em 2019.

Na visão do BNP Paribas, uma queda de 6% no S&P 500 para 2.500 pontos seria o nível de resistência que desencadearia uma reformulação da política monetária. Para a Evercore ISI, o índice teria de cair para pelo menos 2.650. Na quarta-feira (24), o S&P 500 fechou em 2.656.

Na BlackRock e na River Valley Asset Management, o entendimento é que a economia real segue relativamente ilesa apesar do escorregão das bolsas.

"Obviamente estamos prestando atenção na correção no mercado acionário", disse Scott Thiel, vice-diretor de investimentos em renda fixa fundamental da BlackRock em Londres, em entrevista à Bloomberg TV. Mas "precisa muito para mudar a política monetária do Fed".

O Fed teria de se deparar com algo "mais dramático" do que um tombo das bolsas para alterar seu percurso, afirmou Andre de Silva, responsável global por pesquisa de juros em mercados emergentes do HSBC Holdings em Hong Kong, em outra entrevista à Bloomberg TV.

O S&P 500 terminou a quarta-feira com queda de 3,1% e o mês de outubro provavelmente será o pior para o indicador desde fevereiro de 2009. Desde o final de setembro, os mercados de ações do mundo todo perderam US$ 6,7 trilhões em valor de mercado, segundo dados compilados pela Bloomberg. Na correção observada em fevereiro, foram US$ 7,8 trilhões.

As atribulações do mercado acionário ainda não abalaram o mercado de títulos corporativos –componente importante do quadro de condições financeiras monitorado pelo banco central. A diferença entre as taxas dos "junk bonds" e dos títulos com grau de investimento encolheu 0,14 ponto percentual neste ano.

Autoridades monetárias minimizaram a importância dos saltos de volatilidade nos mercados em 2018, citando a boa saúde da economia e o desemprego baixo nos EUA.

Após o aumento do juro básico decidido na reunião do Fed do mês passado, Jerome Powell sugeriu a perspectiva de uma pausa no plano de aperto, ressaltou Anand Ramachandran, da River Valley Asset Management.

"Ele abordou isso duas vezes, primeiro ao destacar que os múltiplos estão próximos do teto dos intervalos históricos, e deste ponto de vista, uma correção não seria incomum", afirmou o investidor, que trabalha em Hong Kong. "Em segundo lugar, após uma pergunta repetida sobre o assunto, ele declarou que o Fed olha para efeitos secundários e para a natureza das correções."

O S&P 500 gerou retorno próximo de 35% desde o início do ciclo de aperto pelo Fed, em dezembro de 2015.

"Uma queda de 10% a 15% nas ações é geralmente a diferença entre ruído e sinalização", escreveram em relatório analistas do BNP Paribas liderados por Bricklin Dwyer.

(Com a colaboração de Garfield Reynolds, Nejra Cehic, Manus Cranny e Paul Dobson)