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Riscos de câncer do herbicida Roundup ainda são desconhecidos

Deena Shanker e Lydia Mulvany

26/10/2018 13h07

(Bloomberg) -- Muitos consumidores já ouviram falar no glifosato, o ingrediente ativo do herbicida conhecido como Roundup, e dos alertas sobre sua presença em muitas de suas comidas favoritas. Da aveia às barras de granola, no sorvete e até mesmo no suco de laranja, os traços do produto químico podem ser encontrados nos supermercados.

Trata-se do herbicida mais usado no mundo -- um campeão de vendas da Monsanto desde o lançamento, na década de 1970. A maioria do milho e da soja dos EUA foi modificada geneticamente para suportá-lo, o que o transformou em componente fundamental da agricultura moderna. Mas em 2015 a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (AIPC) -- braço da Organização Mundial da Saúde -- o classificou como provavelmente cancerígeno. Desde então, o produto se transformou em uma dor de cabeça jurídica para a Monsanto, e agora para a Bayer, que comprou a empresa em junho por US$ 66 bilhões.

Embora os órgãos reguladores, incluindo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês), digam que o glifosato encontrado nos alimentos não representa problemas porque está em níveis baixos, alguns cientistas argumentam que não se sabe o suficiente sobre os efeitos da ingestão de pequenas quantidades do produto, especialmente durante longos períodos de tempo.

"Ele parece estar em tudo", disse Cynthia Curl, codiretora do Centro de Excelência em Saúde e Segurança Ambiental da Universidade Estadual de Boise. "O que sabemos deve nos levar a pesquisar mais."

A Bayer rejeita o relatório da AIPC e diz que o glifosato é "seguro quando usado conforme as instruções". A empresa se apoia em diversos estudos e em órgãos reguladores como a EPA e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, que afirmaram ser improvável que o herbicida seja cancerígeno.

Mas em uma grande derrota nesta semana, no tribunal estadual da Califórnia, um juiz confirmou o veredicto de um júri de que o Roundup contribuiu para o câncer de um jardineiro que está morrendo. Em seu trabalho para um distrito escolar na Califórnia, Lee Johnson misturou e pulverizou centenas de galões do herbicida. Condenada a pagar US$ 78,6 milhões, a Bayer afirmou que planeja apelar -- mas outros 8.700 reclamantes estão à espera com ações judiciais que, segundo um analista, podem gerar centenas de bilhões de dólares em indenizações.

As crescentes preocupações dos consumidores com resíduos químicos fazem parte de um movimento mais amplo por "alimentos limpos". Os compradores estão buscando cada vez mais alimentos em suas formas mais puras, disse Darren Seifer, analista do setor de alimentos e bebidas da NPD Group. A popularidade dos alimentos rotulados como orgânicos ou naturais aumentou e mais da metade dos adultos está evitando ingredientes artificiais e conservantes. Este é, em especial, o caso dos millennials e da geração Z. Independentemente de como o litígio do Roundup terminar, o setor de alimentos já busca se adaptar à conscientização pública a respeito dos produtos químicos agrícolas na oferta de alimentos.

Novas informações estão aparecendo nos rótulos dos alimentos para satisfazer os consumidores mais exigentes. Cerca de um terço dos consumidores de vegetais considera a mensagem "livre de pesticidas" importante, segundo relatório da Mintel. A Detox Project está oferecendo a certificação "livre de resíduos de glifosato" para marcas de alimentos e informou que o número de pedidos de empresas por seus serviços disparou juntamente com o interesse por "alimentos limpos".

"Algumas pessoas estão preocupadas com os riscos, mesmo que pequenos", disse Michael Hansen, cientista sênior da Consumers Union, braço de defesa da revista Consumer Reports.