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Região do Peru assolada pelo terrorismo busca recuperar turismo

John Quigley

28/11/2018 15h23

(Bloomberg) -- A família Añaños fugiu de Ayacucho em 1982 depois que sua fazenda foi atacada por um grupo insurgente maoísta chamada Sendero Luminoso, que espalhava o terror pelas montanhas andinas do Peru.

A família posteriormente montou uma empresa de refrigerantes que se transformaria na AJE Group, uma gigante de bebidas com sede em Madri e presença em 23 países da América Latina, da Ásia e da África. Mas Carlos Añaños, que comandou a expansão internacional da AJE, nunca esqueceu suas origens. Atualmente ele lidera uma iniciativa para que Ayacucho volte a atrair turistas. Os sítios arqueológicos e a herança pré-incaica e colonial transformaram a localidade em destino popular para os visitantes americanos e europeus até a violenta revolta da Sendero Luminoso.

Añaños tirou uma licença de dois anos da firma em 2017 e fundou um trust, o Patronato Pikimachay, cujo objetivo é ajudar a reinserir Ayacucho nos circuitos turísticos locais e internacionais em um momento em que o Peru atrai cada vez mais visitantes.

Popular por sua gastronomia e pelas ruínas de Machu Picchu, o país deverá ser o mercado turístico de maior crescimento da América Latina na próxima década, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo. O governo vê o setor como vital para a diversificação de sua economia, que é dependente de mineração, e está investindo em infraestrutura para abrir atrações menos conhecidas, como Choquequirao, cidade-irmã de Machu Picchu. O turismo deverá responder por 4,2 por cento do produto interno bruto do Peru em 2028, contra 3,8 por cento no ano passado.

"Há inúmeras possibilidades para o desenvolvimento do turismo no Peru", disse Añaños, 52, por telefone, de Madri. "Ayacucho também tem grande potencial, mas precisa de ajuda."

A capital de Ayacucho era parada obrigatória para muitos viajantes a caminho de Machu Picchu. Situada em um vale montanhoso a 2.700 metros acima do nível do mar, a cidade ostenta arquitetura pré-incaica, espanhola e republicana, incluindo 33 igrejas, e produz alguns dos melhores trabalhos artísticos e têxteis do país. Uma batalha que assegurou a independência do país da Espanha, em 1824, foi travada nas proximidades. Añaños batizou seu trust em alusão à caverna local de Pikimachay, onde arqueólogos descobriram restos humanos de 20.000 anos.

Destruída e esquecida

Tudo isso mudou com a Sendero Luminoso, uma organização revolucionária comunista fundada por um professor universitário local, Abimael Guzmán, que instigou um conflito que ceifou cerca de 69.000 vidas, mais de um terço delas na região de Ayacucho.

"Ayacucho foi destruída, marginalizada e esquecida", disse Añaños.

Para dissipar as preocupações remanescentes com a segurança, o trust desenvolveu uma plataforma digital para ajudar os cidadãos a denunciar crimes. O próximo objetivo é criar aquela que será a primeira marca do país específica de uma região para promover Ayacucho. Ela está sendo projetada por uma unidade da Omnicom Group e pela Studio A, que tem sede em Lima, e será lançada em Ayacucho em janeiro com a presença do presidente Martín Vizcarra, disse Añaños. Outro dos objetivos do trust é conseguir que o centro histórico da cidade seja declarado patrimônio da humanidade pelas Nações Unidas.

"Estou tentando fazer com que esse modelo seja sustentável a longo prazo", disse Añaños. "Ao revigorar a indústria e o comércio, conseguimos muito mais do que se simplesmente esperarmos verbas do governo."