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Empresas ajudam Macron a ter Natal em paz com bonificações

Gregory Viscusi e William Horobin

21/12/2018 16h06

(Bloomberg) -- À medida que Emmanuel Macron vai deixando de ser o Grinch e se transforma em Papai Noel, abandonando planos de criar impostos e atacando os cofres públicos para aumentar os salários, as empresas francesas correm para ser seus ajudantes.

Uma das medidas anunciadas por Macron para aplacar os protestos dos chamados Coletes Amarelos contra o alto custo de vida foi pedir que as empresas paguem bônus especiais de fim de ano que, segundo prometeu, seriam isentos de impostos.

A lista de ajudantes que apareceram para entregar os presentes - bonificações em dinheiro de até 1.500 euros (US$ 1.715) - está crescendo rapidamente e inclui algumas das maiores empresas do país, como a Total, os grupos de luxo LVMH e Hermès International, e as empresas de telecomunicações Orange, Altice France e Iliad.

"Sugiro que as empresas que tiverem condições façam isso e façam logo", disse Geoffrey Roux de Bézieux, diretor do grupo empresarial Medef, na rádio France Info em 19 de dezembro. "Os chefes franceses viram o que aconteceu. Eles não são cegos nem surdos."

A medida é uma das mais inteligentes das muitas tomadas por Macron antes do Natal para comprar a calma nas ruas da França. A elevação do salário mínimo e a eliminação de impostos sobre horas extras, aposentadorias e combustível aumentarão o déficit, mas conseguir que as empresas paguem um novo bônus não tem muito custo para o Estado.

Espírito festivo

Responsabilizar as empresas também pode atenuar a raiva provocada pela baixa renda, que até agora estava dirigida principalmente a Macron. Há sinais de que Macron tenha infundido o medo de perder o espírito festivo nas corporações francesas.

"A Orange quis responder ao apelo do presidente e se envolver concretamente para fortalecer o poder aquisitivo dos funcionários que recebem remunerações mais modestas", disse o CEO da Orange, Stéphane Richard, em comunicado em 11 de dezembro, quando anunciou bonificações de 500 a 1.000 euros para 20.000 funcionários.

Alguns servidores públicos também serão beneficiados. A empresa estatal de correio gastará 50 milhões de euros para pagar 300 euros a 200.000 funcionários. E os policiais que tiveram que enfrentar os protestos dos Coletes Amarelos ganharam um bônus de 300 euros, além de um aumento permanente de 120 euros no salário mensal, que será introduzido por etapas durante o primeiro semestre do ano que vem.

Riscos

Há sinais de que as ofertas de Macron estejam surtindo efeito. Pesquisas mostram uma queda do apoio público aos protestos.

No entanto, muitos Coletes Amarelos rejeitam as iniciativas de Macron por considerar que são insuficientes e que chegaram tarde demais. Eles agora passaram a exigir, entre outras coisas, um maior uso de referendos para decidir a política governamental.

O bônus pontual de Macron também spoderia irritar quem não receber, disse Emmanuel Jessua, economista do instituto de pesquisa Rexecode. As grandes empresas urbanas têm mais probabilidades de contar com os meios para participar do que as pequenas empresas em zonas rurais, onde o movimento dos Coletes Amarelos atraiu simpatizantes zangados por causa dos preços do combustível.

"A medida poderia deixar os trabalhadores frustrados", disse Jessua. "Existe um risco que não é neutro no clima atual."

Repórteres da matéria original: Gregory Viscusi em Paris, gviscusi@bloomberg.net;William Horobin em Paris, whorobin@bloomberg.net