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Filtro antipoluição causa polêmica no transporte marítimo

Niclas Rolander

21/12/2018 11h35

(Bloomberg) -- Eles são grandes, caros e cada vez mais polêmicos.

Para muitos, um filtro exaustor instalado nos navios chamado scrubber é considerado essencial no esforço do setor de navegação marítima para enquadramento nos regulamentos contra poluição que entram em vigor em2020. No entanto, portos e empresas de transporte começaram a questionar suas qualidades na comparação com combustível mais limpo. Organizações de defesa do meio ambiente alertaram que os scrubbers podem permitir que as transportadoras marítimas escapem da obrigação de abandonar combustível altamente poluente.

O assunto esquentou no final do mês passado, quando o segundo maior porto do mundo, o de Cingapura, avisou que não permitirá scrubbers de circuito aberto, que após filtrar o combustível, liberam no oceano um resíduo que contém sulfatos e partículas. Portos na Alemanha e Bélgica também restringiram o uso desse tipo de filtro e outros podem tomar a mesma providência.

"Há grande variedade de razões ambientais, regulatórias e operacionais que nos tornam extremamente céticos em relação a essa tecnologia", afirmou Brian Gallagher, gerente de relações com investidores da transportadora belga Euronav. A tecnologia requer "investimento econômico com visibilidade muito limitada do retorno", acrescentou.

Combustível com baixo teor de enxofre

A Euronav explicou que precisaria pagar aproximadamente US$ 5 milhões para instalar scrubbers em cada um dos seus maiores navios. A alternativa seria trocar combustível pesado por um combustível mais caro que tem baixo teor de enxofre. Após o prazo de 2020, quando os navios não poderão navegar com combustível tradicional sem scrubber, não se sabe qual será a diferença de preço.

Discussões entre a empresa de Gallagher e as refinarias indicam que o ágio será muito menor do que os US$ 300 por tonelada que muitos estimaram.

A decisão de Cingapura pode acelerar a migração de operadoras de navios para combustível mais limpo, afirmou Marcie Keever, diretora do programa de oceanos e embarcações da Friends of the Earth International. Essa medida trataria de forma mais contundente dos problemas causados pelo óleo pesado, como o risco de vazamentos desastrosos, e "não colocaria só um band-aid na questão, que é aparentemente o que fazem esses scrubbers", complementou ela. Os navios podem levar o resíduo para a terra firme e se livrar dele de modo mais responsável, explicou ela.

A maioria dos scrubbers vendidos tem circuito aberto, mas grandes fornecedoras do sistema ? como a finlandesa Wartsila e sua rival sueca Alfa Laval ? oferecem modelos de circuito fechado ou híbridos, que permitem descarte seguro nos portos. Transportadoras marítimas que adotaram os scrubbers ? como a dinamarquesa D/S Norden e a operadora de cruzeiros Carnival Group International ? argumentam que o sulfato resultante "é um constituinte da água do mar que ocorre naturalmente" e não prejudica os oceanos.

Encomendas

Enquanto corre o debate sobre combustível mais barato, muitas transportadoras planejam a instalação de scrubbers. A líder mundial A.P. Moller-Maersk está entre as céticas e decidiu instalar o equipamento em uma pequena parcela de seus navios. Fornecedoras como a Wartsila recebem muitas encomendas e produzirão a todo vapor no ano que vem.

"Nossas encomendas estão praticamente no máximo em 2019", disse Roger Holm, responsável pela divisão marítima da companhia sediada em Helsinki. "Temos espaço para 2020, então não é um problema, mas estamos vendendo o tempo inteiro."

Já Gallagher está confiante que a Euronav poderá aproveitar 2019 para aguardar e verificar se os scrubbers funcionam como prometido.

"Se estivermos errados, e se em seis, nove ou 12 meses todas essas questões saírem de circulação e 50 scrubbers estiverem funcionando perfeitamente, então nosso plano B será investir nessa tecnologia", disse ele.