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Goldman e analistas importantes perdem fé no rali Bolsonaro

José Lucena/Estadão Conteúdo
Imagem: José Lucena/Estadão Conteúdo

Ben Bartenstein e Aline Oyamada

21/12/2018 14h32Atualizada em 21/12/2018 18h55

(Bloomberg) -- A euforia do mercado desde que o Brasil elegeu o deputado federal de direita Jair Bolsonaro para presidente pode desaparecer, porque é improvável que ele cumpra rapidamente as promessas de eliminar o déficit e estimular o crescimento econômico, segundo algumas das maiores empresas de investimento do mundo.

Embora o maior mercado da América Latina continue sendo o queridinho de alguns estrategistas, o Goldman Sachs alertou para uma "forte correção de preço dos ativos" se o presidente eleito não conseguir a aprovação da reforma da Previdência. James Syme, gestor de recursos da JO Hambro Capital Management em Londres, disse que está vendendo ativos do Brasil e ampliando a exposição ao México, porque os mercados estão excessivamente otimistas em relação à capacidade de Bolsonaro de implementar mudanças econômicas significativas.

O Goldman e a JO Hambro se juntam à fundadora da Totem Macro, Whitney Baker, e à economista de Harvard Carmen Reinhart, que sinalizaram riscos para o Brasil. Com as reduções de juros a uma mínima recorde pelo Banco Central e avaliações do mercado a respeito da eleição presidencial mais imprevisível em décadas, o real caiu 14% e as ações por pouco não entraram em um "bear market". Após a vitória de Bolsonaro, a dúvida passou a ser se o capitão da reserva conseguirá levar um Congresso fragmentado a aprovar a impopular reforma da Previdência, em meio ao forte déficit do país.

"O governo tem alternativas bastante limitadas para eliminar o déficit, e o Congresso dividido, somado à falta de experiência política do gabinete de Bolsonaro, dificultará ainda mais a aprovação de leis", disse Tania Escobedo, estrategista do RBC Capital Markets e uma das melhores analistas do real no último trimestre. Ela está apostando contra o real em favor do peso mexicano.

Os outros dois dos melhores analistas do real no último trimestre também alertam que os mercados estão exageradamente animados. You-Na Park, estrategista do Commerzbank em Frankfurt, disse que se mantém cautelosa em relação à moeda, já que Bolsonaro dificilmente cumprirá com rapidez todas as suas promessas legislativas. Gustavo Rangel, economista da ING Financial Markets em Nova York, estima que o dólar subirá para R$ 4 no Brasil no começo de 2019, podendo voltar a cair no decorrer do ano que vem.

A cautela em relação ao país não é o consenso. Em pesquisa da Bloomberg com 30 gerentes de fundos, traders e estrategistas globais, as principais escolhas entre os mercados emergentes no ano que vem para moedas, títulos e ações foram Brasil, Brasil e Brasil. A consultoria de risco Eurasia Group elevou a trajetória de curto prazo do país para positiva nesta sexta-feira, afirmando que os índices de aprovação melhores que os esperados de Bolsonaro serão fundamentais para a aprovação de medidas econômicas no começo de 2019.

Apesar disso, a posição de otimismo com o México e pessimismo com o Brasil tem ganhado força ultimamente entre os investidores, que afirmam que os mercados latino-americanos julgaram os novos líderes da região rápido demais. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, se beneficia com a posição fiscal sólida de seu país e aprenderá com os primeiros erros, mas é cedo demais para dizer se Bolsonaro conseguirá formar uma coalizão no Congresso para aprovar políticas econômicas no ano que vem, segundo o Bank of America.

"A situação econômica que AMLO está herdando é muito melhor do que a que Bolsonaro está herdando", disse Syme, da JO Hambro. "Se AMLO mostrar que é um líder ineficiente, o México ainda pode se sair bem. Mas se Bolsonaro for um líder ineficiente, o Brasil terá problemas."

Talvez o mais preocupante seja a fé depositada pelos investidores em Paulo Guedes, o ministro nomeado da Economia, segundo Escobedo. Não há garantia de quanto tempo ele permanecerá no cargo. Os investidores só precisam se lembrar de 2015, quando Joaquim Levy, o garoto de ouro do mercado, durou menos de um ano como ministro da Fazenda.

"De forma similar ao que ocorreu no começo do governo Temer, boa parte dos movimentos positivos dos ativos brasileiros se deve à expectativa de reformas profundas que corrijam o risco fiscal e deem impulso ao investimento e ao crescimento", disse Escobedo, do RBC. "As perspectivas de cumprimento são excessivamente otimistas."

--Com a colaboração de Raymond Colitt.