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Água dessalinizada agrava poluição no Oriente Médio e África

Jonathan Tirone

08/01/2019 15h46

(Bloomberg) -- A Arábia Saudita não é apenas a maior exportadora mundial de petróleo. É também a maior produtora de um efluente tóxico resultante dos esforços para matar a sede do reino.

Cientistas da Organização das Nações Unidas alertaram nesta terça-feira que a dessalinização na Arábia Saudita e outros países está criando volumes gigantescos de salmoura repleta de produtos químicos que podem contaminar cadeias alimentares se não forem tratados. O problema é mais grave no Oriente Médio e Norte da África, que respondem por dois terços da água contaminada por usinas de dessalinização, que também fazem uso intensivo de energia.

"Temos que tratar das consequências potencialmente severas da dessalinização - os danos da salmoura e da poluição química ao ambiente marinho e à saúde humana", afirmou Vladimir Smakhtin, diretor do Instituto da ONU para Água, Meio Ambiente e Saúde, sediado em Hamilton, no Canadá.

Juntas, as 16.000 plantas de dessalinização espalhadas pelo mundo produzem efluente suficiente a cada ano para cobrir aproximadamente 170.000 quilômetros quadrados com 30 centímetros de salmoura tóxica, segundo o estudo da ONU revisado por especialistas e publicado no Science of the Total Environment, da Elsevier.

A dessalinização é um processo industrial que emprega calor e pressão para tornar a água do mar adequada para consumo humano. Para cada litro produzido de água potável, cria-se 1,5 litro de líquido poluído com cobre e cloro, pelos cálculos da ONU. Quando volta para o oceano, o líquido tóxico diminui o nível de oxigênio e impacta organismos ao longo da cadeia alimentar.

As usinas de dessalinização da Arábia Saudita produzem cerca de 31,5 milhões de metros cúbicos de água contaminada todos os dias, sendo que a maior parte é bombeada para o oceano. O volume equivale a 20 milhões de barris de petróleo por dia ou o dobro da produção atual do país. O reino está fazendo licitação para sete projetos de dessalinização e água residual, na tentativa de aliviar o impacto de aquíferos esgotados.

Embora seja possível tratar a salmoura tóxica para remover produtos químicos e metais pesados, esses processos são caros e exigem ainda mais uso de energia, segundo o relatório. Outros países conseguem usar a salmoura para cultivar plantas forrageiras e suplementos alimentares, mas isso implica salinizar a terra.

"Há necessidade de traduzir essa pesquisa e converter o problema ambiental em oportunidade econômica", disse Manzoor Qadir, diretor-assistente do instituto da ONU. "Isso é particularmente importante em países que produzem grandes volumes de salmoura com eficiência relativamente baixa, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Catar."