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Tombo recorde da Vale atinge o maior fundo de pensão do Brasil

Gerson Freitas Jr., Vinícius Andrade e Felipe Marques

29/01/2019 13h53

(Bloomberg) -- O maior fundo de pensão do Brasil sofreu um grande golpe com a queda recorde das ações da Vale após o colapso da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais.

A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, viu o valor de sua participação indireta de 17,6% na gigante de minério de ferro cair R$ 12,7 bilhões (US$ 3,4 bi) após as ações da mineradora tombarem 25% na segunda-feira. A Previ é a maior acionista indireta da Vale e tem na empresa o seu principal investimento em ações.

A Vale foi jogada em um turbilhão depois que uma de suas barragens inativas de resíduos de mineração se rompeu na sexta-feira, permitindo que a lama fosse lançada para um vale rural no estado brasileiro de Minas Gerais. Até terça-feira, o número de mortes era de 65 pessoas e 279 estavam desaparecidas.

O desastre, que ocorreu após um evento semelhante no empreendimento da Samarco -- controlada da Vale --em 2015, provocou uma série de rebaixamentos de analistas em meio a maiores riscos de perdas com indenizações, ações judiciais, maior fiscalização e fechamento de minas. Os títulos emitidos pela produtora de minério de ferro no exterior afundaram na Europa e nos Estados Unidos.

"Após a Samarco e com esse outro rompimento na barragem, achei melhor sair e então reavaliar", disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management em Miami. Ele zerou toda a sua exposição aos títulos da Vale após o desastre por enquanto. "Sobre quando é hora de voltar, eu diria que é quando eu tiver uma ideia melhor do custo. E, para isso, precisamos de mais tempo."

A queda de segunda-feira tirou mais de R$ 72 bilhões do valor de mercado da Vale, a pior perda da empresa em um único dia. A derrocada equivale a quase o dobro do valor de mercado da JBS, a maior fornecedora de carne do mundo. A Vale, com sede no Rio de Janeiro, era até quinta-feira a terceira maior empresa do Brasil em valor de mercado e agora ocupa o quinto lugar.

Fundos de pensão da Noruega e da Suécia disseram que vão reavaliar seus investimentos na empresa, enquanto um fundo dinamarquês disse que não comprará ações adicionais até que tenha mais informações sobre as causas do rompimento.

A Previ disse na segunda-feira, em comunicado enviado por e-mail, que tem um "portfólio diversificado de ativos" que pode absorver o impacto de curto prazo da queda da Vale. Os recursos da Previ são suficientes para cumprir as obrigações com participantes, o que significa que não precisa vender ações da Vale para aumentar o caixa, acrescentou.

O governo do Brasil elevou o tom em relação à Vale e à sua administração após o segundo desastre em cerca de três anos. Embora a Vale tenha tomado medidas nos últimos anos para se proteger da intervenção estatal, o governo ainda é indiretamente o maior acionista da empresa através da Previ, de outros fundos de pensão e da empresa de participações do BNDES.

A Previ e outros fundos de pensão que faziam parte dos acionistas controladores da Vale estavam discutindo a venda de pelo menos parte de suas ações na companhia a mercado, mas nunca levaram o plano adiante.

"O mercado parece estar atribuindo uma chance maior de o acidente ter um impacto relevante na maneira como a Vale opera", disse Leonardo Rufino, gestor de portfólio da Pacifico Gestão de Recursos, que gere cerca de R$ 2 bilhões e tem exposição à Vale e à holding Bradespar.