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Empresários italianos ignoram Roma e se preparam para recessão

Lorenzo Totaro

30/01/2019 15h40

(Bloomberg) -- Como muitos executivos italianos, Federico Visentin está apenas tentando continuar trabalhando.

Visentin, que dirige a Mevis, fabricante de componentes metálicos no norte da Itália, não pode se dar ao luxo de se distrair com as rixas internas do governo em Roma. A perspectiva econômica global tornou-se mais sombria, a demanda em um de seus maiores mercados está sob pressão e a própria Itália está em risco de recessão.

"Não estamos só esperando a tempestade passar", diz ele na sede da empresa em Rosà, perto de Vicenza. "Reduzimos nossos custos sem renovar contratos temporários e transferimos ainda mais produção para nossas fábricas na Eslováquia e na China."

A política da Itália em 2018 foi dominada pelo afrouxamento fiscal, por um salto no custo dos empréstimos soberanos e por uma amarga luta com a Comissão Europeia. Isso abalou a confiança e o investimento e tornou a Itália a economia de crescimento mais lento da zona do euro. A incerteza política continua sendo um problema e os executivos do norte estão preocupados com as diferenças entre os dois partidos na coalizão dominante: a Liga, com base eleitoral em suas regiões, e o Movimento Cinco Estrelas, o mais forte do sul.

Desaceleração

A Itália está acostumada à persistente instabilidade política, mas Visentin e outros em todo o coração industrial do país têm outro problema -- uma desaceleração global que está atingindo a demanda na economia que depende das exportações. A confiança na manufatura caiu para o menor nível em mais de dois anos em janeiro, de acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira.

Visentin, que dirige uma das principais fornecedoras italianas para montadoras alemãs, está sentindo o efeito cascata negativo do crescimento mais fraco da China, também sentido em empresas americanas como a Caterpillar. Como as vendas de automóveis na segunda maior economia do mundo estão sofrendo, isso está se refletindo em empresas como a Mevis. Os pedidos no primeiro trimestre caíram 20 por cento em comparação com os do ano anterior.

"Os temores de menor crescimento na Alemanha inevitavelmente se refletem nas empresas desta parte da Itália, não só nas que estão diretamente expostas a esse mercado", disse Carlo Carraro, economista e presidente emérito da Universidade Ca' Foscari de Veneza. Há também uma "visão generalizada de que o orçamento do governo não faz nada para ajudar a economia e o emprego", disse ele.

Projeções

O Banco da Itália projeta que a economia crescerá apenas 0,6 por cento neste ano, menos de metade do ritmo da zona do euro. A previsão é de que tenha encolhido pelo segundo trimestre consecutivo no fim de 2018. O departamento nacional de estatísticas divulgará sua estimativa do PIB para o período na quinta-feira.

Matteo Zoppas, chefe da Confindustria, grupo empresarial do Vêneto, diz que seus colegas empresários da região devem ser muito cautelosos em relação às perspectivas.

A Itália teve uma recuperação de curta duração em que "algumas grandes empresas se saíram bem e a maioria das empresas de pequeno e médio porte teve dificuldades", disse Zoppas, cuja família é dona da produtora de água mineral Acqua Minerale San Benedetto. "Estamos entrando em um período de dificuldades."