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Tradings em busca de investidores encontram poucos interessados

Andy Hoffman e Javier Blas

14/02/2019 15h58

(Bloomberg) -- Elas lucram centenas de milhões de dólares por ano e têm um conhecimento inigualável do fluxo de commodities importantes pelo mundo. Mas quando as maiores tradings de commodities saíram em busca de investidores em ações, encontraram poucos interessados.

Da gigante do setor de energia Gunvor Group à famosa negociante agrícola Louis Dreyfus, as tradings tentaram receber injeções de dinheiro vendendo participações minoritárias a parceiros estratégicos, mas não conseguiram. Em vez disso, os recursos necessários para ampliar a liquidez ou monetizar as participações de pessoas de dentro da organização vieram com o aumento do endividamento ou com a venda de ativos -- abordagem longe da ideal em um momento em que os resultados já estão perdendo força.

"A natureza do negócio de trading de commodities torna a venda de uma participação minoritária muito complicada", disse Jean François Lambert, consultor do setor e ex-executivo de finanças comerciais do HSBC Holdings. "Este negócio depende de um punhado de tradings experientes, e quem não é trading tem dificuldades para administrá-lo."

Parte do problema é que o negócio de trading de commodities, muito dependente da volatilidade dos mercados e de um sofisticado gerenciamento de risco, é conhecido pelas grandes oscilações nos lucros. A Vitol Group, maior trading de petróleo independente do mundo, registrou lucro líquido de quase US$ 2,3 bilhões em 2009. O valor caiu para US$ 837 milhões em 2013, subiu para US$ 2 bilhões em 2016 e recuou para US$ 1,5 bilhão no ano seguinte.

Anos difíceis

Os últimos anos têm sido duros para as tradings porque a queda nos resultados dificulta a busca por investidores. A situação ficou ainda pior com o aumento da concorrência e uma mudança tecnológica que tornou informações de mercado importantes -- antes conhecidas apenas por algumas tradings -- amplamente disponíveis para todos.

Para as tradings de petróleo, a estrutura de mercado que fornecia dinheiro fácil em 2015 e 2016 com o armazenamento de petróleo para venda posterior a preços mais altos desapareceu. As tradings de metais estão apenas começando a melhorar após anos de resultados ruins devido aos preços fracos. As tradings agrícolas enfrentam também colheitas abundantes e a ausência de problemas climáticos significativos, o que reduziu lucros e a volatilidade dos preços, desejada pelas tradings.

"O setor de trading de commodities está em um caminho que não é sustentável. A margem habitual para uma trading é de cerca de 0,5 por cento de turnover", disse o CEO da Mercuria Energy Group, Marco Dunand. "A tendência vai continuar. Não é algo cíclico, é estrutural. Por isso, talvez seja necessária uma consolidação."

As tentativas de encontrar investidores minoritários têm sido complicadas pelo fato de que muitas tradings têm um acionista dominante no controle, o que deixa qualquer pequeno proprietário exposto aos riscos do negócio e à volatilidade nos resultados, mas com muito pouco controle sobre a administração da empresa.

Uma trading que conseguiu fechar negócio foi a Mercuria, com sede em Genebra, que vendeu uma participação de 12 por cento para um consórcio liderado pela China National Chemical Corp. em 2016. O acordo funcionou porque ambas as partes podiam oferecer algo além de dinheiro, segundo Dunand, que é também cofundador da Mercuria.

"Quando você trabalha com alguém por muito tempo e vê sinergias reais, é natural procurar fortalecer os laços", disse. "Se a única motivação for o dinheiro, é improvável que funcione."

Repórteres da matéria original: Andy Hoffman em Genebra, ahoffman31@bloomberg.net;Javier Blas em Londres, jblas3@bloomberg.net