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Os US$ 32 tri que levam combustíveis fósseis a agir pelo clima

Lynn Thomasson e Thomas Biesheuvel

21/02/2019 11h36

(Bloomberg) -- Por trás da decisão da Glencore de limitar o investimento em carvão há um grupo de investidores pouco conhecido, mas poderoso.

A Glencore tomou a decisão após sofrer pressão de uma rede de acionistas conhecida como Ação Climática 100+, que tem o apoio de mais de 300 investidores que administram US$ 32 trilhões. O grupo foi fundado há pouco mais de um ano, mas já forçou reformas em pesos-pesados do petróleo, como BP e Royal Dutch Shell.

Os céticos podem considerar as mudanças da Glencore mínimas (a empresa ainda pode ganhar bilhões com seu enorme negócio de carvão), mas mesmo assim o anúncio mostra a influência dos investidores para obrigar até mesmo as empresas mais reticentes a responder a suas demandas.

"Se a Glencore anunciar que não vê crescimento futuro para o carvão, outros prestarão atenção", disse Edward Mason, chefe de investimento responsável dos Comissários da Igreja pela Inglaterra. "Não é uma posição fácil para a Glencore."

Ele participou das discussões com a empresa, diálogo que chamou de "um processo intensivo de engajamento".

As forças empresariais estão convergindo em relação à mudança climática de uma forma que remodelará os setores de energia e mineração nos próximos anos, apesar do compromisso firme do presidente dos EUA, Donald Trump, de expandir o setor de carvão. Outras mineradoras deixaram o negócio de carvão ou prometeram não investir, e produtoras de petróleo se comprometeram a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.

O Ação Climática 100+ afirma que seu objetivo é gerar mudanças nas empresas que mais contribuem para as emissões de gases causadores do efeito estufa. A lista inclui os maiores nomes do setor, incluindo o Sistema de Aposentadoria dos Funcionários Públicos da Califórnia, a Allianz e o HSBC Global Asset Management.

O grupo pressiona as empresas a tomarem medidas para reduzir os gases causadores do efeito estufa e divulgar mais informações a respeito de como seus negócios serão afetados por um clima mais quente.

As siderúrgicas também estão sob escrutínio. O Ação Climática 100+ publicou recentemente um relatório com suas expectativas para as grandes empresas siderúrgicas, afirmando que deseja que o setor reduza as emissões em consonância com o acordo climático de Paris.

Embora os investidores aplaudam o movimento, ainda não se sabe se as empresas estão trabalhando o suficiente contra as mudanças climáticas. O carvão continua sendo o carro-chefe da geração de dinheiro entre os ativos industriais da Glencore. Nos últimos anos, enquanto outras empresas se retiraram do mercado de carvão, a Glencore ampliou o negócio abocanhando minas na Austrália.

Os executivos da Glencore "de qualquer maneira provavelmente não iriam se expandir no carvão, mas agora eles têm uma mensagem que soa como redução de oferta, o que dá crédito ESG a eles, em um mundo onde os investidores estão levando esses aspectos cada vez mais em consideração como parte do processo", disse Richard Knights, analista da Liberum Capital Markets em Londres, em referência aos fundos que mantêm critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).

--Com a colaboração de Kelly Gilblom e Mathew Carr.

Repórteres da matéria original: Lynn Thomasson em Londres, lthomasson@bloomberg.net;Thomas Biesheuvel em Londres, tbiesheuvel@bloomberg.net