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Lava Jato espera mudar comercialização de petróleo no mundo

Sabrina Valle

22/02/2019 10h32

(Bloomberg) -- Depois de se virem encurraladas numa investigação de corrupção da Lava Jato, as empresas que comercializam petróleo no mundo devem reconhecer que precisam mudar suas práticas de contratação de intermediários, disse o delegado da Polícia Federal que lidera a investigação.

Filipe Pace espera que empresas como Vitol Group, Trafigura e Glencore cheguem a acordos de leniência ou conformidade com autoridades no Brasil e em outros países, depois que intermediários com quem trabalharam ao redor do mundo foram acusados ??de pagar subornos para conseguir contratos.

Isso já ocorreu por exemplo com empresas como a SBM Offshore, construtora de plataformas de petróleo, e a Rolls-Royce Holdings, fabricante de turbinas, quando foram pegas pela investigação. Elas acabaram assinando acordos simultâneos com autoridades no Brasil, nos EUA e na Europa, com pagamento de multas, disse Pace.

"Isso foi o que aconteceu com outras empresas internacionais no passado e as tradings provavelmente repetirão o mesmo", disse Pace em uma entrevista. "Elas não podem simplesmente ignorar a Lava Jato, as evidências são muito fortes."

A Vitol, a Glencore e a Trafigura, três das maiores empresas de comércio de commodities do mundo, se tornaram o foco mais recente da Lava Jato, que mandou empresários, políticos e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a prisão.

Os EUA estão conduzindo uma investigação paralela e há colaboradores detalhando como o esquema funcionava.

Os intermediários que trabalham para as empresas supostamente subornaram funcionários da Petrobras para garantir contratos de produtos petrolíferos, disseram os promotores brasileiros numa denúncia. Promotores brasileiros acusaram 15 pessoas como parte do esquema.

Pela primeira vez desde que começou em 2014, a Lava Jato encontrou provas de supostos subornos envolvendo várias empresas internacionais do mesmo setor, aumentando as chances de que a indústria reveja suas práticas, disse Pace.

O grupo ativista Global Witness diz que as empresas de comércio de commodities podem ter usado intermediários corruptos altamente colocados em todo o mundo para adquirir ativos e fechar negócios.

"O escândalo da Lava Jato é extremamente significativo para os três maiores traders de commodities", disse o diretor de investigações da Global Witness, Daniel Balint-Kurti, em Londres. "Seria muito difícil para essas empresas colocarem a culpa em um ou dois ovos podres."

Ou as empresas se explicam e provam que não sabiam que seus representantes estavam subornando funcionários ou admitem que adotaram práticas questionáveis, disse Pace."Comprometer-se com novas práticas corporativas com o Brasil e a comunidade internacional é a melhor maneira de uma empresa assumir a sua parcela de culpa", disse Pace.

Glencore e Trafigura preferiram não comentar sobre o assunto.

Vitol disse que "seria inapropriado" para a empresa comentar neste momento. "A Vitol reitera que tem uma política de tolerância zero em relação a suborno e corrupção e, como dito anteriormente, sempre vai cooperar com as autoridades em qualquer jurisdição na qual opere."

Em comentários anteriores, Trafigura disse que está levando as alegações a sério e negou que a gerência tivesse conhecimento do alegado esquema.