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Após sanções, Venezuela está sem espaço para armazenar petróleo

Lucia Kassai e Fabiola Zerpa

26/02/2019 16h12

(Bloomberg) -- A Venezuela está ficando sem espaço para armazenar seu petróleo, que poucos ousam comprar devido às sanções impostas, o que obriga o país a reduzir a produção apesar de o mundo estar sedento por óleo pesado e sulfuroso.

Navios-petroleiros carregados com 8,36 milhões de barris de petróleo bruto venezuelano, avaliados em mais de meio bilhão de dólares, estão flutuando ao largo da sua costa enquanto o país procura encontrar compradores para seu petróleo após as novas sanções dos EUA em janeiro. Uma frota de 16 navios armazena carregamentos pertencentes à estatal Petróleos de Venezuela, à Chevron, à Valero Energy e à Rosneft Oil, segundo relatórios de embarque e dados de monitoramento de navios compilados pela Bloomberg.

Os empreendimentos petrolíferos da PDVSA com a Rosneft, Chevron, Total e Equinor, cujos melhoradores (ou upgraders) convertem o petróleo bruto venezuelano, com consistência similar à do asfalto, em um óleo que as refinarias são capazes de processar, reduziram o ritmo nesta semana porque ficaram sem espaço para armazenar petróleo bruto, segundo pessoas a par da situação. Como há poucos compradores dispostos a adquirir petróleo da PDVSA, a alternativa foi colocar parte do óleo em navios-petroleiros para liberar espaço e continuar operando a um ritmo mais lento.

O acúmulo de navios e a crescente dificuldade em manter as usinas de melhoramento de petróleo em funcionamento ressaltam o impacto das sanções dos EUA sobre a PDVSA. Os carregamentos de petróleo exportado para os EUA, que já foram os maiores clientes da Venezuela, secaram. Sem acesso ao sistema financeiro dos EUA, do qual muitas refinarias e tradings dependem para financiar suas operações, a PDVSA está tendo problemas para encontrar compradores além de países como Índia e China, aos quais deve petróleo como pagamento por empréstimos passados.

A Petromonagas, joint-venture da PDVSA e da Rosneft voltada ao processo de melhoramento, não está processando petróleo porque ficou sem espaço para armazenar sua produção, disse uma pessoa a par da situação. A Petropiar, empreendimento da PDVSA com a Chevron, reduziu a produção pelo mesmo motivo, disseram outras pessoas. A Petrocedeno, empreendimento da PDVSA, Total e Equinor, está ficando sem petróleo para processar porque a proibição de venda de nafta pesada para a PDVSA dificultou o transporte do óleo pesado através de oleodutos dos campos em terra para a unidade de melhoramento, disse outra pessoa.

Enquanto a Venezuela tem dificuldades para vender seu petróleo, o resto do mundo busca encontrar barris de óleo pesado porque uma redução autoimposta pelo Canadá e os cortes de oferta da Opep diminuíram a disponibilidade do tipo de petróleo produzido pela Venezuela.

A oferta restrita de petróleo pesado elevou os preços do principal tipo de petróleo da Colômbia, o Castilla, que compete com o petróleo venezuelano no mercado global. O Castilla para embarque em março é negociado a US$ 4 menos por barril do que o óleo de referência Brent, segundo pessoas a par da situação. O valor contrasta com o desconto de US$ 9,80 para as remessas embarcadas em fevereiro.

Repórteres da matéria original: Lucia Kassai em São Paulo, lkassai@bloomberg.net;Fabiola Zerpa em Caracas Office, fzerpa@bloomberg.net