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Espiões alemães lutam para manter Huawei fora do 5G: Fontes

Patrick Donahue e Birgit Jennen

06/03/2019 15h12

(Bloomberg) -- Os radicais do governo da chanceler Angela Merkel brigam para ter o poder de manter a Huawei Technologies fora das redes de internet móvel de quinta geração da Alemanha.

Os linhas-duras do ramo de cibersegurança temem que a Huawei possa ajudar a China a roubar segredos de empresas alemãs ou até mesmo do Estado alemão e pressionam por critérios rigorosos para as fornecedoras de equipamentos antes de o governo iniciar o processo de emissão de licenças 5G, dentro de duas semanas, segundo três pessoas familiarizadas com as negociações realizadas em Berlim.

Apesar de o gabinete ter decidido que uma proibição completa à fabricante de equipamentos chinesa seria legalmente impossível, diversos representantes do governo estão exigindo ferramentas que permitiriam impedir o uso de equipamentos da Huawei, disseram as pessoas.

O Ministério do Interior, o Ministério das Relações Exteriores e o serviço de inteligência da Alemanha estão enfrentando o Ministério da Economia e os grupos de lobby do setor, que afirmaram que marginalizar a Huawei atrasaria o lançamento do 5G por anos e custaria bilhões ao país. O ministro da Economia, Peter Altmaier, disse que nenhuma restrição pode ter como alvo empresas específicas e terá que envolver padrões de segurança para todos os possíveis provedores de serviços.

Porta-vozes da Chancelaria Federal e dos ministérios preferiram não comentar o assunto em meio às negociações.

Tensões com Washington

A Huawei virou foco das tensões entre EUA e Europa a respeito do comércio e das políticas segurança em um momento em que Washington ameaça aplicar represálias contra qualquer governo que permitir que os equipamentos chineses façam parte dessas redes ultrarrápidas e de grande importância.

O chefe de inteligência estrangeira do Reino Unido disse no mês passado que uma proibição total à Huawei pode ser excessiva, e o vice-primeiro-ministro da Itália afirmou que o setor de inteligência de seu país não tem preocupações de segurança relativas aos chineses. Os executivos do setor europeu de telecomunicações presentes em uma conferência em Barcelona, na semana passada, se uniram para tentar evitar qualquer proibição contra a Huawei.

As autoridades de segurança da Alemanha, contudo, têm mais simpatias pelos receios dos EUA e ainda não desistiram.

Critérios de segurança

Os esforços delas atualmente se concentram no catálogo de critérios de segurança que os equipamentos 5G terão que cumprir para obter certificação do Escritório Federal de Segurança da Informação da Alemanha, ou BSI. O Reino Unido tem um processo de certificação semelhante.

Os ministérios ainda estão em processo de negociação para definir o rigor dos critérios de certificação.

Um deles poderia ser uma avaliação da confiabilidade do fornecedor, disse um representante do governo. As autoridades também precisarão prestar muita atenção ao modo como as empresas interagem em seu país de origem, segundo outro, fazendo referência a uma lei chinesa que exige que a Huawei compartilhe dados com os serviços de inteligência de Pequim.

Alguns critérios podem ser diluídos até o momento da conclusão do catálogo -- e o BSI pode ter margem de manobra na concessão da certificação. Mas os radicais pressionam para que o limite seja o mais alto possível. A Alemanha planeja revelar suas diretrizes até 19 de março, data programada de início do leilão de frequências móveis 5G.

A equipe do Ministério do Interior argumenta que a estrutura aberta da internet 5G a torna especialmente vulnerável, segundo um membro do governo. Afirma também que a sabotagem cibernética do governo é uma ameaça similar ou maior do que a espionagem -- hackers ou agências hostis que violam equipamentos 5G podem causar estragos em sistemas importantes.

--Com a colaboração de Stefan Nicola.

Repórteres da matéria original: Patrick Donahue em Berlin, pdonahue1@bloomberg.net;Birgit Jennen em Berlin, bjennen1@bloomberg.net