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Conheça a empresa que Justin Trudeau se arrisca para salvar

David Scanlan

11/03/2019 14h42

(Bloomberg) -- A SNC-Lavalin Group tem tido muitos problemas ultimamente. A empresa enfrenta acusações de suborno na Líbia, divulgou dois alertas de lucros devido a problemas no Chile e na Arábia Saudita e perdeu quase metade do valor em nove meses.

Por que, então, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, está colocando em risco sua carreira política para resgatar essa construtora? Tudo se resume a três coisas: empregos, a influência política da SNC e o status especial de muitas empresas de Quebec nos corredores do poder da capital do Canadá.

A SNC não era um nome conhecido antes do início da crise de Trudeau, há cerca de um mês, devido a informações de que sua ex-procuradora-geral, Jody Wilson-Raybould, se sentiu indevidamente pressionada pelo gabinete de Trudeau a ajudar a empresa a evitar um julgamento sob a acusação de corrupção.

As obras dela, no entanto, são bastante conhecidas. A empresa de engenharia com sede em Montreal construiu a linha de trem que liga o centro de Vancouver ao aeroporto. É uma das proprietárias da enorme rodovia com pedágio que cruza o extremo norte de Toronto. Globalmente, construiu ou gerenciou todo tipo de obra, desde terminais de carvão na Colômbia até projetos petrolíferos na Arábia Saudita.

Esses contratos internacionais em lugares distantes criaram muitos problemas para a SNC -- e agora para Trudeau. A empresa foi acusada pela Real Polícia Montada do Canadá em 2015 pelo suposto pagamento de subornos mais de uma década antes ao regime de Moammar Qaddafi na Líbia. Mais perto de casa, a empresa pagou restituição a diversos municípios de Quebec sob um programa provincial para recuperar custos excessivos de contratos públicos manchados, e o La Presse publicou que a empresa pode enfrentar acusações por um esquema de subornos ligado à reforma de uma ponte em Montreal.

Sobre as acusações da Líbia, a SNC pensou que havia garantido uma espécie de carta branca com um acordo de acusação diferida. Segundo esse programa, usado nos EUA e no Reino Unido mas novo no Canadá, a empresa poderia ter evitado o julgamento e pago multa argumentando que já arrumou a casa e que não deveria ser punida pelos pecados de ex-executivos.

O Ministério Público do Canadá recusou o pedido da SNC para fechar um acordo extrajudicial em setembro. Wilson-Raybould poderia ter intervindo para anular a ordem, mas preferiu não fazê-lo. A equipe de Trudeau pediu que ela reconsiderasse a decisão, o que gerou o escândalo atual. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico afirmou nesta segunda-feira que escreveu para o governo de Trudeau a fim de explicitar seus receios com a possível interferência política neste caso.

Então por que a SNC é tão especial para justificar todo esse capital político?

Proteção aos empregos

Uma das resposta são os empregos -- muitos deles. A SNC emprega mais de 52.000 pessoas em todo o mundo e é uma das poucas gigantes internacionais que mantêm sede no Canadá. A Nortel Networks faliu, a BlackBerry é uma sombra do que era antigamente e a Barrick Gold pode em breve passar a ser dirigida da África do Sul. Quase 9.000 trabalhadores da SNC estão no Canadá, cerca de um terço deles na província de Quebec, majoritariamente francófona. É tentador para qualquer político proteger números de empregos como estes -- e de trabalhadores altamente qualificados e bem remunerados.

"Havia a preocupação de que a SNC pudesse abandonar completamente o Canadá", disse Trudeau a jornalistas, na quinta-feira, em Ottawa.

--Com a colaboração de Sandrine Rastello.