Inflação baixa é mistério ainda sem solução para BC dos EUA
(Bloomberg) -- É um antigo caso sem solução que ainda intriga os investigadores. Após anos de juros baixíssimos e com a taxa de desemprego em 3,8 por cento, onde está a inflação nos EUA? É um mistério que paira sobre o banco central, o Federal Reserve.
A questão não só dificulta as decisões de política monetária como também gera dúvidas sobre como as autoridades devem cumprir seus mandatos de máximo emprego e estabilidade de preços. Este é um dos grandes motivos por trás da revisão de um ano que o Fed está fazendo sobre como atingir esses objetivos.
"É quase certo que a inflação está menos intimamente ligada ao que ocorre na economia real do que estava no passado e isso tem grande importância", disse Jeffrey Fuhrer, diretor de pesquisa do escritório regional do Fed em Boston.
Os dados mais recentes aumentam o mistério sobre a ausência de pressão sobre os preços. Um indicador de inflação subjacente até cedeu inesperadamente em fevereiro.
O mistério
Desde que o Fed definiu a meta explícita de inflação em 2 por cento, em janeiro de 2012, a média de seu indicador preferido - o índice de preços dos gastos de consumo pessoal ou PCE - ficou em apenas 1,4 por cento. Excluindo os preços voláteis de alimentos e energia, a média é 1,6 por cento.
O desemprego foi alto por alguns desses anos, mas mesmo no período desde março de 2017, quando a taxa caiu para menos de 4,5 por cento, a média do núcleo de inflação ficou em 1,7 por cento.
Além disso, o mistério antecede a recessão, já que a média ficou em 1,8 por cento quando se usam dados desde 1993.
E qual é o problema?
Será que tudo isso é mesmo ruim? Para quem viveu nas décadas de 1970 e 1980, inflação um pouco abaixo da meta do Fed parece um problema agradável. Ainda assim, inflação baixa pode criar encrenca.
Junto com o crescimento econômico lento, a inflação está mantendo os juros nos menores níveis históricos. Isso tira munição para o Fed combater recessões porque há pouco espaço para cortes de juros.A inflação baixa também pode prejudicar o ativo mais importante de um banco central: sua credibilidade. É quase consenso que a fé do público no compromisso do Fed de alcançar a meta de 2 por cento ajuda a atingir esse objetivo. Dados que persistentemente pendem para o mesmo lado podem corroer essa confiança.
Explicações
Não faltam teorias que expliquem o quadro ? e cada uma com suas implicações para a política monetária. A maioria dos economistas entende que a resposta está na combinação de algumas das ideias abaixo e não em um fator único.
1. Ociosidade
Diversas teorias pregam que o mercado de trabalho não está tão esticado quanto se pensa. Talvez o nível de desemprego que desencadeie aumento da inflação seja menor do que o estimado. O alto escalão do Fed definiu esse limite em aproximadamente 4,4 por cento, mas se for realmente 3,9 por cento, o mistério da inflação talvez seja resolvido.
O desemprego está baixo, mas o dado só contabiliza pessoas que procuram emprego ativamente. Os empregadores têm contratado gente que não estava à caça de ocupação, sugerindo ociosidade escondida no mercado de trabalho americano.
A ociosidade no mercado de trabalho internacional também pesa. Muitos economistas calculam que a abertura de países como a China ao comércio internacional acrescentou pelo menos 1 bilhão de pessoas ao contingente global de mão de obra.
Isso tudo sugere que o desemprego pode cair mais do que no passado.
2. Desinflação secular
Economistas enxergam diversas mudanças estruturais de longo prazo que podem empurrar a inflação para baixo. Por exemplo, com o envelhecimento da população, há mais gente de idade que poupa mais e gasta menos. A aposentadoria da numerosa geração que nasceu após a Segunda Guerra Mundial (Baby Boomers) reduziu a remuneração média. Também contam o colapso das estruturas sindicais, a concentração de empregadores e a exposição ao comércio internacional.
A tecnologia também entra na discussão, ao reduzir custos e permitir que as empresas lucrem mais mesmo com pequenos reajustes ou até baixando preços.
3. Expectativas ancoradas
Em audiência ao Congresso em 26 de fevereiro, o presidente do Fed, Jerome Powell, declarou que as "expectativas de inflação agora são o vetor mais importante da inflação de fato".
Defensores desta teoria lembram que, nos EUA, a inflação parou de reagir intensamente ao desemprego no início da década de 1990. Isso se encaixa na ideia amplamente aceita de que o Fed se comprometeu com o controle da inflação.
É possível que o longo período de inflação abaixo de 2 por cento tenha forçado o recuo das expectativas de inflação e, por isso, o Fed está fazendo a reavaliação neste ano.
"O que buscamos é uma maneira de atingir nossa meta simétrica de inflação de 2 por cento com mais credibilidade", disse Powell aos parlamentares.
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