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Mudança para plantio de milho nos EUA pode não se concretizar

Isis Almeida

19/03/2019 14h47

(Bloomberg) -- A expectativa de que os produtores rurais dos EUA apostariam alto no milho e esnobariam a soja no segundo trimestre foi alimentada durante meses. No fim das contas, talvez isso não aconteça.

Embora a guerra comercial entre os EUA e a China prejudique as exportações de soja, a relação de preço entre as duas commodities favorece apenas ligeiramente o milho, disse Corey Jorgenson, presidente da unidade de grãos da The Anderson.

O clima úmido e nevoso dos últimos tempos e a possibilidade de mais enchentes na primavera na região Centro-Oeste do país podem prejudicar ainda mais as plantações de milho. Além disso, muitos produtores vão preferir manter as habituais rotações de culturas.

As tradings esperavam uma mudança maior para o milho devido ao aumento do estoque de soja. Soren Schroder, ex-CEO da Bunge -- uma das maiores tradings de commodities agrícolas do mundo -- disse no ano passado que a mudança poderia ser de magnitude histórica. Mas, de lá para cá, a China voltou a comprar no mercado americano para demonstrar boa vontade e alguns problemas logísticos ajudaram a respaldar os preços da soja.

"A relação é apenas ligeiramente favorável ao milho no momento", disse Jorgenson, na semana passada, quando a soja estava 2,4 vezes mais cara que o milho. "A relação de preço, o clima em um determinado dia e a previsão do tempo para 10 dias, colocadas diante do fazendeiro que está tomando uma decisão naquele dia, é o que determinará o tamanho da área que será plantada com milho."

O plantio de soja cairá cerca de 1,6 milhão de hectares neste ano, menos que o declínio esperado em setembro e outubro, disse Ken Eriksen, vice-presidente sênior da Informa Economics, uma influente firma de análises.

As plantações de milho aumentarão em quantidade similar, enquanto algumas áreas serão adicionadas ao algodão, disse ele, na convenção da Associação Nacional de Grãos e Ração dos EUA (NGFA, na sigla em inglês), em Amelia Island, na Flórida.

O clima será fundamental para as decisões dos fazendeiros já que as áreas atingidas pela neve demoram mais para ficar prontas para o cultivo do que as terras apenas úmidas, disse Eric Wilkey, presidente da Arizona Grain e também da NGFA.

O maior risco de atraso está na parte norte da região Centro-Oeste -- Nebraska, sul de Minnesota, Dakota do Norte e Dakota do Sul --, onde as inundações provocaram fechamentos de estradas e prejudicaram a movimentação de grãos. Mas os produtores rurais ainda têm tempo para plantar milho, disse.

"Se for possível plantar 90 por cento da safra de milho até 10 de maio não haverá muita mudança", disse Wilkey, em entrevista, na segunda-feira, em Amelia Island, acrescentando que as tradings esperam um aumento nas plantações de milho de 1,2 milhão a 1,6 milhão de hectares. "Pelo que vemos, a cada ano os produtores conseguem plantar a safra em um período menor de tempo."

A soja geralmente é plantada depois do milho.

Os produtores com restrições financeiras podem ter dificuldades para plantar mais milho. O milho usa cerca de duas vezes mais fertilizantes e produtos químicos que a soja. Além disso, por causa do clima os produtores não fizeram o trabalho de campo e não aplicaram o fertilizante necessário para plantar milho.