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Mudança climática exigirá escolhas mais difíceis, diz JPMorgan

Christopher Flavelle

20/03/2019 11h45

(Bloomberg) -- O mundo não está reduzindo as emissões de carbono a uma velocidade suficiente nem está perto disso, disse um alto executivo do J.P. Morgan Asset Management a clientes nesta semana -- e para mudar a situação serão necessárias escolhas muito mais difíceis do que a maioria imagina.

No relatório "Energy Outlook", de caráter anual, Michael Cembalest, presidente de investimento e estratégia de mercado do grupo de gerenciamento de ativos, escreveu que os EUA precisam reduzir o uso de carbono muito mais rapidamente -- visão compartilhada pelos autores do Green New Deal, entre eles a representante democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, que está em seu primeiro mandato.

Mas Cembalest afirma que os defensores do plano minimizaram a dificuldade de atingir seus objetivos. O objetivo do Green New Deal de atingir emissão líquida zero de gases causadores do efeito estufa nos EUA até 2030, escreve, "não está dentro do possível".

"As pessoas não têm um quadro completo do que é viável", disse Cembalest, em entrevista por telefone, na terça-feira. "Acredito que serão necessários ainda mais sacrifícios do que as pessoas pensam."

Em seu relatório, "Mountains and Molehills", divulgado na segunda-feira, Cembalest começa destacando que mesmo que o mundo conseguisse gerar toda a sua eletricidade a partir de fontes de emissão zero, como energias renováveis ou nuclear, a eletricidade representa menos de um terço do consumo de combustível fóssil.

Muito mais difícil, argumenta Cembalest, será reduzir os combustíveis fósseis da produção industrial, por exemplo do cimento, do aço, da amônia e dos plásticos. Essas fábricas normalmente são alimentadas diretamente pela queima de carvão ou de outros combustíveis fósseis, o que pode gerar mais calor e pressão.

"Alguns à direita são acusados de estarem 'intelectualmente falidos' em relação às questões climáticas e eu vejo evidências disso", afirma no relatório. "Mas ser intelectualmente desonesto a respeito da viabilidade do Green New Deal não ajuda ninguém. Na melhor das hipóteses, é um slogan para galvanizar apoio à mudança; na pior, é um sinal do pouco que seus proponentes fizeram."

"Aos defensores do Green New Deal: é mais fácil falar em descarbonizar o uso da energia industrial do que fazer", escreve Cembalest.

Cembalest depois analisou algumas das tecnologias incipientes que mais chamaram a atenção dos defensores do clima e dos investidores e explicou por que nenhuma delas é tão promissora quanto parece.

Plantar ou replantar árvores para extrair carbono do ar "são soluções de baixa tecnologia que podem funcionar e funcionam", mas é pouco provável que reduzam as emissões totais dos EUA em mais do que alguns pontos percentuais, mesmo em grande escala. A captura e o sequestro de carbono, o etanol celulósico, as novas tecnologias de armazenamento de energia e a chamada fundição de alumínio "livre de carbono" são igualmente superestimados, escreve Cembalest.

A mensagem para os investidores, disse Cembalest, não é que os cortes das emissões são inúteis. É que os EUA e outros países precisarão aceitar mudanças muito mais abrangentes -- e provavelmente politicamente impopulares -- para atingir a meta.

Entre elas pode estar o maior uso do domínio eminente para expropriar terras privadas para a construção de linhas de transmissão para levar eletricidade eólica aos centros populacionais, disse Cembalest. Isso pode significar impostos mais altos, inclusive impostos sobre o carbono. E também o uso menor de bens e serviços.

"A redução do consumo terá que fazer parte da equação", disse Cembalest.