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Google e Huawei continuam parceria apesar de guerra comercial

Shelly Banjo e Mark Bergen

01/04/2019 11h10

(Bloomberg) -- Quando a Huawei apresentou seu novo smartphone na semana passada, a maior fabricante mundial de equipamentos de telecomunicações também revelou outro produto. A ferramenta Track AI promete emparelhar software com dispositivos da Huawei para que profissionais sem especialização diagnostiquem doenças oculares.

A Huawei Technologies desenvolveu a Track AI usando o TensorFlow, um conjunto de ferramentas de software de inteligência artificial do Google, controlado pela Alphabet. O TensorFlow também tem código aberto, por isso qualquer pessoa pode usá-lo em qualquer lugar, sem que o Google consiga controlar o acesso.

No entanto, uma equipe de criação que trabalha com clientes de publicidade do Google também forneceu ferramentas de marketing para a Huawei, segundo Chris Brummitt, porta-voz do Google. Essas equipes trabalham regularmente com clientes do Google para "fazer o máximo possível com a tecnologia, levando a ideias como esta", acrescentou Brummitt, enfatizando que nenhum engenheiro do Google trabalhou no projeto. Um porta-voz da Huawei confirmou a parceria.

A iniciativa Track AI não é uma prioridade estratégica significativa para nenhuma das gigantes de tecnologia, mas destaca as importantes relações comerciais que o Google tenta construir há décadas com empresas chinesas como a Huawei.

A inteligência artificial é uma grande área de investimento para ambas as empresas, e o diagnóstico médico é um dos campos mais maduros para programas de reconhecimento de imagem. No entanto, a parceria acontece em um momento particularmente tenso. A Huawei é alvo da administração Trump em meio ao receio de que a empresa seja uma ameaça à segurança nacional e um veículo de espionagem de Pequim, alegações que a empresa tem negado consistentemente. Os esforços de inteligência artificial do Google na China são objeto de fortes críticas dos militares dos EUA.

O apoio do Google na iniciativa Track AI pode estar ligado ao enorme negócio de publicidade do grupo norte-americano, que atende a empresas chinesas de olho em clientes fora do país, mesmo com as ferramentas de busca bloqueadas no território.

Embora o Google não divulgue as vendas geradas na China, a Ásia respondeu por cerca de 15% da receita total no ano passado.

A Huawei e o Google também trabalharam juntas no passado. Os telefones da empresa com sede em Shenzhen usam o software Android, do Google. Fora da China, os aparelhos dependem muito dos aplicativos dos EUA, como o de pesquisa, Chrome e Google Maps. Em 2015, a fabricante chinesa projetou um modelo do smartphone Nexus, também comercializado pelo Google.

Em junho, a amizade corporativa caiu na fogueira política. Cinco senadores dos EUA escreveram uma carta ao diretor-presidente do Google, Sundar Pichai, dizendo que a parceria da empresa com a Huawei "poderia representar um sério risco para a segurança nacional dos EUA e para os consumidores americanos".

Pichai se reuniu na semana passada com um alto oficial militar e com o presidente Donald Trump, que criticaram as operações da gigante de tecnologia na China.

Mas a interferência política não conseguiu deter a expansão da Huawei. Na semana passada, a empresa divulgou aumento de 25% no lucro anual, apesar da preocupação com a segurança de seus produtos de rede de telecomunicações.

Repórteres da matéria original: Shelly Banjo em NY, sbanjo@bloomberg.net;Mark Bergen em São Francisco, mbergen10@bloomberg.net