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Febre suína deve afetar mercado global de soja por vários anos

Isis Almeida

15/04/2019 11h53

(Bloomberg) -- Esqueça a guerra comercial de Donald Trump. É uma febre mortal que se espalha pela China que realmente transformará o mercado global de soja nos próximos anos.

Livrar-se da doença e recompor o rebanho em um país que consome metade da carne suína do mundo levará de três a cinco anos, reduzindo a demanda por soja usada para ração, segundo analistas.

Considerando que a China é o maior importador de soja e a maioria de seus embarques geralmente vem dos Estados Unidos, a oleaginosa tem sido o foco do "toma lá, dá cá" da disputa tarifária. Embora as tensões comerciais tenham levado os fabricantes de rações da China a reduzirem o uso da oleaginosa, é o vírus dos suínos que tende a derrubar o mercado. O Departamento de Agricultura dos EUA e a INTL FCStone já estimam um declínio ou crescimento mais lento das importações chinesas de soja nos próximos dois anos.

"Hoje, a febre suína africana é o principal assunto relacionado à demanda", disse Corey Jorgenson, presidente da unidade de grãos da trading norte-americana The Andersons, que compra e vende milho, trigo e soja de fazendeiros dos EUA. "Isso nos impactará por um ano safra ou mais. Não é um caso isolado de 2019."

A febre suína africana, identificada pela primeira vez na África em 1900, mata a maioria dos porcos infectados em 10 dias, embora não haja informações de que possa afetar humanos. A China já abateu mais de um milhão de suínos ao identificar 122 surtos em 30 províncias. A febre não dá sinais de estar desaparecendo.

A Cargill, uma das principais tradings de commodities agrícolas, disse que o lucro trimestral com nutrição animal e esmagamento de soja chinesa foi atingido pelo vírus. A Andersons também embutiu a menor demanda por soja em suas projeções.

A produção de suínos na China deve cair cerca de 30% este ano, uma queda próxima do tamanho da oferta total anual da Europa, segundo o Rabobank, um dos principais credores do setor agrícola. O número de suínos reprodutores na China já caiu 21% em março em relação ao ano anterior, de acordo com um relatório do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais publicado na sexta-feira.

O banco diz que o país levará pelo menos três anos para recompor o rebanho. A consultoria Agribusiness Intelligence, da Informa, também aposta em três anos, enquanto a corretora FCStone espera pelo menos cinco anos.

A estrutura do setor de carne suína da China torna "quase impossível" impedir a propagação da febre suína africana, disse Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da FCStone. Isso porque grande parte da produção e do abate ocorre em pequenas operações familiares. Muitos agricultores cujo rebanho foi atingido pela febre e que tentaram reproduzir novos suínos acabaram enfrentando o problema de novo, segundo a Informa.

As importações de soja da China devem cair pela primeira vez em 15 anos, para 88 milhões de toneladas nesta temporada, e a FCStone diz que as compras poderiam diminuir novamente, para 71 milhões de toneladas em 2019-20, devido ao impacto da febre suína africana - a previsão da empresa também leva em conta a continuidade da disputa de tarifas. O Serviço de Agricultura Estrangeira do USDA ainda espera que as importações cresçam na próxima safra, embora a um ritmo mais lento. Os volumes ainda permanecerão abaixo dos níveis alcançados em 2017-18.

(Com a colaboração de Alfred Cang, Shuping Niu e Irene García Pérez.)