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Grandes petrolíferas puxam retomada de setor imobiliário no Rio

Fabiola Moura e Sabrina Valle

15/05/2019 08h41

(Bloomberg) -- São crescentes os sinais de que o pior já passou para o Rio de Janeiro, pelo menos em imóveis comerciais.

A taxa de ocupação de escritórios no Rio deve apresentar uma leve alta pelo segundo ano consecutivo, um sinal de recuperação depois do escândalo de corrupção que abalou a indústria petrolífera, também afetada pela queda de preços, segundo a CBRE, que monitora preços de aluguéis comerciais com base em seu banco de dados próprio.

Há uma demanda crescente por escritórios de alto padrão no centro do Rio devido à recuperação dos preços do petróleo e aos programas da Petrobras para a venda de ativos e para fechar parcerias com grandes empresas globais. O megaleilão marcado para outubro deve atrair empresas como Exxon Mobil, Royal Dutch Shell e Chevron, o que leva a uma rápida melhora das perspectivas para o setor.

"Esperamos um ano muito positivo", disse Walter Cardoso, presidente da CBRE no Brasil, em entrevista no escritório da Bloomberg, em São Paulo. "Tem muita coisa acontecendo nos mercados de petróleo e gás."

Já se vê uma movimentação ??nos prédios comerciais mais modernos do Rio. A Shell - uma das vencedoras das recentes licenças de exploração - está se mudando para o Ventura Corporate Towers, em frente à sede da Petrobras. A Shell vai ocupar oito andares - na antiga sede, eram apenas três - no prédio localizado no centro do Rio, onde a Schlumberger e a Baker Hughes também têm escritórios.

A Petronas, da Malásia, também expandiu suas operações no Brasil ao comprar participações em dois campos de petróleo da Petrobras.

Depois da Copa do Mundo de 2014 e pouco antes das Olimpíadas de 2016, o estado do Rio de Janeiro declarou estado de calamidade financeira e começou a atrasar os salários de funcionários públicos. O Exército foi chamado para intervir na segurança pública com o objetivo de conter a onda de violência e a alta taxa de homicídios.

A taxa de ocupação líquida nos escritórios do Rio caiu por quatro anos consecutivos a partir de 2014. Grandes empresas como a Petrobras e a operadora de telecomunicações Oi foram forçadas a cortar custos e reestruturar operações, enquanto outras petrolíferas estavam em compasso de espera após anos sem novas licenças de exploração. As principais empresas de serviços petrolíferos, como a Schlumberger, reduziram a presença no mercado com a queda dos investimentos.

Todos esses fatores negativos, combinados com a entrega de novos prédios, levaram a uma taxa de vacância de 27% no mercado imobiliário comercial do Rio em 2017, uma alta recorde, segundo a CBRE. A taxa mostrou leve queda em 2018 e permaneceu estável no primeiro trimestre de 2019, mas deve continuar caindo, disse Cardoso. Em 2012, o nível de vacância era de apenas 3%, acrescentou.

Ainda assim, a violência, a pobreza e a crise fiscal continuam a afligir o Rio, levando algumas empresas a transferirem sua sede para São Paulo. A Petrobras continua a reduzir as equipes de alguns escritórios no centro para concentrar suas operações no Edise (edifício-sede).

Entre 2017 e 2018, o governo arrecadou R$ 28 bilhões com licenças de exploração leiloadas para cerca de 20 empresas. Um número recorde de rodadas marcou o mandato do ex-presidente Michel Temer, que flexibilizou as regras do setor para atrair petrolíferas globais. O presidente Jair Bolsonaro deu continuidade ao programa com outras três rodadas previstas para 2019.

Com os leilões, o Brasil ultrapassou o México e a Venezuela e se tornou o maior produtor de petróleo da América Latina. A ANP espera que as últimas rodadas ajudem o Brasil a triplicar a produção de petróleo, para 7,5 milhões de barris por dia em 2030, já que os campos levam anos para atingir o potencial de produção.

Os royalties da exploração dos poços de petróleo leiloados também devem ajudar o estado do Rio a equilibrar as contas, disse Cardoso. A receita fiscal obtida com as licenças deve aumentar de R$ 60 bilhões em 2018 para R$ 300 bilhões em 2030, segundo dados da ANP. Uma grande parte dessa receita vai ficar no Rio, estado que historicamente concentra a maior parte da produção do país e onde as grandes petrolíferas já estão instaladas.

"O Brasil subiu para um novo nível depois dessas rodadas", disse o diretor-geral da ANP, Decio Oddone, em entrevista. "A receita atual é pequena em comparação com o que ainda está por vir."

Embora a recuperação seja lenta, a CBRE, maior prestadora de serviços imobiliários comerciais do mundo e que está no Brasil desde 1979, destaca que imóveis de alto padrão estão sendo ocupados primeiro.

"Estamos vendo um 'flight to quality' no Rio de Janeiro", disse o vice-presidente da CBRE, Adriano Sartori, em entrevista em São Paulo. "É o começo de um ciclo."

--Com a colaboração de Patricia Lara.

Repórteres da matéria original: Fabiola Moura em São Paulo, fdemoura@bloomberg.net;Sabrina Valle em Rio De Janeiro, svalle@bloomberg.net