Advogado veterano vê década difícil para dívidas de emergentes
(Bloomberg) -- Para países em desenvolvimento que precisam enfrentar credores, Lee Buchheit era o calvário. Durante sua carreira de 43 anos na Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, o perspicaz advogado especializado em reestruturações construiu sua reputação acabando com os sonhos de retornos estratosféricos de investidores.
Buchheit, de 68 anos, trouxe termos legais enigmáticos, como cláusulas de ação coletiva e ordens de proteção de ativos, aos mercados de títulos de dívida modernos. Buchheit recorreu ao primeiro termo para conseguir um pacto para a Grécia, permitindo que uma maioria absoluta de credores formulasse um acordo vinculante para todos os detentores de títulos. Buchheit usou o outro termo no Iraque para forçar investidores americanos a venderem ativos locais.
Agora aposentado, o nativo de Pittsburgh tem um prognóstico assustador para a próxima década: Buchhei prevê a maior onda de inadimplência desde o início dos anos 80. Ele culpa o surgimento dos chamados títulos bullet, instrumentos de dívida que não pagam cupom, apenas o valor do principal na data final de vencimento. Em entrevista, Buchheit comentou sobre o aprendizado na carreira e as reestruturações que espera no horizonte.
BEN BARTENSTEIN: Como o senhor entrou para o negócio de reestruturação de dívidas?
LEE BUCHHEIT: Percebi que a minha sobrevivência a longo prazo na profissão jurídica exigiria que eu encontrasse uma área de atuação que oferecesse um grau contínuo de renovação intelectual. A prática soberana faz isso. Cada país é diferente. Não apenas em sua condição financeira, mas também em sua cultura, alavancagem geopolítica e política interna.
BB: Qual foi uma de suas maiores lições nessa área?
LB: Quando trabalhei com as Filipinas pela primeira vez, na década de 1980, Ferdinand Marcos ainda estava no poder e assisti à ascensão de Cory Aquino. Foi muito emocionante. Também aprendi uma lição. Nenhum governo, por mais bem-intencionado que seja, pode curar todos os males de uma sociedade.
BB: Quem está mais exposto ao risco?
LB: Estou preocupado com os cerca de 20 países que nunca tinham entrado nos mercados internacionais de bônus e conseguiram emitir títulos pela primeira vez na última década. Na África Subsaariana, você vê vários países que terão problemas, particularmente se as taxas de juros continuarem a subir ou se uma retirada da flexibilização quantitativa enxugar a liquidez do mercado.
BB: Como a política contribui para esse problema?
LB: Essa sempre foi uma característica das finanças soberanas. As pessoas que emprestam raramente são as que pagam. Então você tem uma tensão óbvia quando há um governo em vigor e uma grande crise. A oposição quer ver o governo cair.
BB: Qual o papel dos investidores?
LB: Bem, um investidor moderno de bônus normalmente não vai esperar a dívida vencer. Os investidores podem dizer: "Vou comprar o título com vencimento 'bullet' e, quando esse dia chegar, quando for refinanciado, espero não estar lá. Já terei vendido". A única característica compartilhada por cada investidor de hedge fund é que eles sabem que são mais inteligentes do que todos os outros. Vão dizer: "Posso perceber os primeiros sinais de problemas e vender para algum outro pobre diabo".
BB: Então, qual é sua perspectiva agora?
LB: Outra onda de problemas de dívida soberana de mercados emergentes pode estar próxima. As taxas de juros subiram de seus mínimos históricos. Os programas de QE estão sendo encerrados. O boom das commodities está bem distante de suas máximas. Muita dívida, tanto corporativa quanto soberana, foi colocada nos livros nos dias de bonança.
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