Economia fraca e norma contábil testam solidez dos balanços
(Bloomberg) -- Para muitos analistas, a resiliência nos resultados de empresas atuando no mercado doméstico foi, nos últimos tempos, um motivo de otimismo em relação à economia brasileira.
Contudo, empresas de todos os setores apresentaram sinais de fraqueza na última rodada de resultados, contribuindo para o cenário de incerteza em meio à frustração com a incapacidade do governo de impulsionar a economia neste primeiro semestre.
A adoção do IFRS 16, um nova norma contábil, também não ajudou, obrigando empresas a contabilizar ativos arrendados, elevando o valor de dívidas e outros passivos e, com isso, pressionando as margens de lucro no 1º trimestre.
Confira os principais fatores que afetaram a última temporada de balanços e o que analistas veem no horizonte:
Crescimento fraco
Economistas cortaram a previsão de crescimento do PIB de 2019 nas últimas 12 semanas diante do aumento da instabilidade política e da fraqueza nos indicadores de atividade. Uma série de dados sugere que a economia encolheu no primeiro trimestre.
"Um ambiente econômico mais fraco do que o esperado está por trás da deterioração na qualidade dos resultados", Carlos Sequeira e Bernardo Teixeira, entre outros estrategistas do BTG Pactual, afirmaram em um relatório no começo do mês.
Os empresários, que começaram o ano com grande expectativa de que a economia finalmente se recuperaria sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, têm demonstrado decepção com o ritmo da retomada, além de preocupação com o desemprego e o atraso na tramitação da reforma da Previdência no Congresso.
"O primeiro trimestre foi um pouco mais forte do que no mesmo período do ano passado, mas ainda é muito pouco", disse Sergio Malacrida, diretor financeiro da Votorantim, em entrevista por telefone sobre a unidade de cimento da empresa. A capacidade ociosa do setor está em torno de 40%, com volumes de vendas crescendo em ritmo menor que o previsto para o ano.
Os resultados divulgados pela Camil, líder em vendas de arroz e feijão, ficaram abaixo das expectativas da empresa devido à forte concorrência de rivais de menor porte. "A gente ainda não consegue enxergar, nos diferentes segmentos, uma recuperação do poder aquisitivo, o cliente voltando a comprar o produto de marca", Flavio Vargas, em entrevista por telefone. " Esse cenário duro que a gente tem enfrentado nos últimos dois anos ainda não se reverteu."
Impacto da IFRS 16
A dívida da Petrobras, maior empresa do país, aumentou em cerca de US$ 27 bilhões, devido à adoção da nova normal contábil. A estatal começou a registrar no balanço os custos futuros com arrendamento de plataformas, navios, helicópteros, propriedades e outros equipamentos.
No caso da Ambev, a dívida aumentou em quase R$ 2 bilhões com a contabilização dos ativos arrendados, levando a uma queda de 60 pontos-base da margem Ebitda ajustada, para 40,5%. O impacto das novas regras contábeis sobre a rentabilidade da fabricante de bebidas ofuscou o crescimento de 8,6% nas vendas da empresa.
A Kroton fechou o primeiro trimestre com dívida líquida de R$ 5,9 bilhões e caixa líquido de R$ 1,11 bilhão. Nos três primeiros meses do ano, a empresa emitiu dívida para financiar a aquisição da Somos Educação e adotou a nova norma contábil.
O que esperar
O Morgan Stanley acredita que os balanços devem desapontar novamente no segundo trimestre diante da atividade econômica mais fraca que o esperado, escreveram estrategistas liderados por Guilherme Paiva, em relatório de 16 de maio.
A desaceleração da economia e o desânimo em relação ao cenário político afetaram as vendas do varejo em abril, indicando que o desaquecimento observado a partir de março pode comprometer também os resultados do segundo trimestre, afirma Julie Chariell, analista de consumo para a América Latina da Bloomberg Intelligence.
Apesar das revisões negativas para o PIB, alguns analistas destacam que as empresas estão bem posicionadas para colher os frutos dos esforços feitos nos últimos anos para reduzir custos e aumentar a eficiência em meio à recessão.
Julio Zamora, do Citi, disse que a contínua diversificação, a menor alavancagem operacional e as baixas taxas de juros compensam o crescimento mais lento.
Para contatar o editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
Repórteres da matéria original: Vinícius Andrade em São Paulo, vandrade3@bloomberg.net;Fabiola Moura em São Paulo, fdemoura@bloomberg.net;Gerson Freitas Jr. em São Paulo, gfreitasjr@bloomberg.net
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