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Demanda por bônus da América Latina é bem maior que oferta

Ezra Fieser, Pablo Gonzalez e Justin Villamil

29/05/2019 10h00

(Bloomberg) -- Investidores globais estão com os bolsos cheios e prontos para fazer negócio com empresas da América Latina dispostas a emitir dívida. O problema é que não há muita dívida para comprar.

O ano deve ser fraco para as emissões de títulos de dívida na região. O Itaú Unibanco estima entre US$ 65 bilhões e US$ 75 bilhões em ofertas de bônus denominados em dólar. Seria o menor volume desde pelo menos a crise financeira há dez anos, reflexo de uma economia morna que ofusca o ambiente mais favorável de taxa de juros.

"Há muito capital para poucas ofertas", disse em entrevista Baruc Saez, responsável de banco de investimento para a América Latina do Itaú. "A política e perspectiva muito dovish para os juros são muito construtivas para mercados emergentes e América Latina, em particular."

O PIB da América Latina deve crescer apenas 1,4% este ano, sob o peso da desaceleração econômica no Brasil e no México, uma crise sem fim na Argentina e o colapso da Venezuela. Como resultado, as empresas relutam em emitir mais dívida, focando principalmente no refinanciamento de vencimentos futuros. E mais empresas estão fazendo ofertas nos mercados domésticos, que têm bastante liquidez.

Essa é a tendência vista no mercado brasileiro, disse Eduardo Freitas, responsável pela área de emissão de dívida do Citigroup.

"Quando batemos à porta das empresas, os executivos dizem: 'Adoro esses retornos, esses preços estão ótimos. Mas por que vou levantar dinheiro?", disse Freitas em entrevista em São Paulo. "Com a economia crescendo tão devagar, as empresas não estão fazendo grandes investimentos. Estão esperando."

Na segunda maior economia da região, as empresas mexicanas estão vendendo menos títulos de dívida para tentar reduzir os níveis de alavancagem diante das perspectivas incertas para o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador.

Na Argentina, o emissor mais ativo do país também ficou à margem no ano passado, já que o elevado retorno pago pelos bônus soberanos deixou a venda de títulos muito custosa. A produtora de gás e petróleo YPF reduziu sua relação dívida líquida/Ebitda para 2,5 vezes, uma queda de cerca de 60% desde 2016. Outras petroleiras, como a Ecopetrol, usaram o dinheiro em caixa para pagar dívida em dólar.

Em um dos poucos grandes acordos de M&A até agora este ano, a Natura tinha uma longa fila de bancos para escolher para financiar a aquisição da rival Avon, um sinal da abundância de liquidez no mercado. No final, a empresa de cosméticos acabou escolhendo o Bradesco, Citigroup e Itaú para financiar US$ 1,6 bilhão do acordo avaliado em cerca de US$ 2 bilhões.

A escassez de ofertas cria espaço para empresas de maior risco explorarem mercados dos quais estariam excluídas no ano passado. Em janeiro, a TermoCandelaria Power, que controla uma hidrelétrica na Colômbia, elevou o volume de sua oferta de bônus junk para US$ 410 milhões. A International Airport Finance, que opera o aeroporto em Quito, pagou um prêmio - a taxa de cupom foi de 12% -, mas conseguiu vender US$ 400 milhões em títulos de dívida.

"Há um ano, havia pouco apetite para esses tipos de oferta", disse Mauricio Fernandez, vice-presidente de renda fixa do Itaú.

Repórteres da matéria original: Ezra Fieser em República Dominicana, efieser@bloomberg.net;Pablo Gonzalez em Buenos Aires, pgonzalez49@bloomberg.net;Justin Villamil em Cidade do México, jvillamil18@bloomberg.net