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Histeria sobre recompras de ações nos EUA pode ser exagerada

Rachel Evans e Sarah Ponczek

29/05/2019 13h35

(Bloomberg) -- Tem sido impossível ignorar a histeria sobre como as recompras de ações estão inflando o mais longo rali da história dos Estados Unidos.

As 500 maiores empresas dos EUA devem gastar quase US$ 1 trilhão para retirar ações das bolsas este ano, segundo o Goldman Sachs. A Apple anunciou recentemente que planeja recomprar mais US$ 75 bilhões em ações. E muita gente, como o presidenciável Bernie Sanders e o ex-presidente do Goldman, Lloyd Blankfein, tem opinado sobre o impacto dessas compras sobre as empresas, o mercado e a sociedade.

Certamente, há muito dinheiro em jogo, mas as recompras não são as únicas responsáveis pela onda compradora. Primeiro, os bilhões gastos com essas operações respondem por cerca de 1% de todas as ações que trocam de mãos nas bolsas dos EUA a cada ano. É uma grande e visível fonte de demanda líquida, mas uma pequena parte das negociações em geral. Em segundo lugar, um pequeno grupo de empresas é responsável pela maior parte dos dólares - não é um efeito manada. E terceiro, recompras de ações provavelmente não estão sendo realizadas às custas dos investimentos.

"A narrativa de que as recompras são do mal e a única coisa impulsionando o mercado é exagerada", diz Ed Clissold, estrategista-chefe para EUA da Ned Davis Research, com sede na Flórida. "O outro lado da história é que as empresas têm sido lucrativas, e os investidores se sentem mais confortáveis desde a crise financeira em ações, e isso parece ser muito mais importante"

As recompras ocorrem com uma empresa fazendo lances por uma ação no mercado ou dando aos acionistas uma opção de ofertar suas participações. Ao retirar a ação do mercado, uma empresa teoricamente melhora seu lucro por ação e pode impulsionar seu valuation.

Normalmente, as recompras são realizadas se uma empresa decide que utilizar seu caixa de outra forma - como em aquisições estratégicas ou investimento em negócios - não oferecerá um retorno suficiente. O problema surge, ou pelo menos esse é o argumento, quando todo mundo está fazendo isso.

O volume gasto com recompras de ações saltou mais de 50%, para US$ 819 bilhões em 2018, e deve alcançar US$ 940 bilhões este ano, segundo estimativas do Goldman. Essa é uma grande aposta de mão única no mercado acionário, sendo que as recompras aumentaram os valuations em cerca de 19% nos últimos oito anos, de acordo com um estudo da Ned Davis Research. (A empresa subtraiu o valor das recompras do retorno em dólares do benchmark.)

O número parece alto, mas o S&P 500 teve valorização de 166% durante o mesmo período e acumula alta 12% só este ano. E isso se o capital usado para recompras simplesmente desaparecesse; o mercado estaria apenas 2% mais baixo se as empresas reinvestissem seu dinheiro extra em vez de recomprar ações, diz a empresa. A Yardeni Research concluiu em relatório publicado em março que as recompras não têm impacto significativo no lucro por ação, e um indicador de ações em circulação caiu apenas 0,3% ao ano na última década.

--Com a colaboração de Vildana Hajric.

Repórteres da matéria original: Rachel Evans em N York, revans43@bloomberg.net;Sarah Ponczek em N York, sponczek2@bloomberg.net