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Após o problemático Max, Airbus coloca Boeing em outro dilema

Julie Johnsson e Benjamin D. Katz

14/06/2019 11h22

(Bloomberg) -- A Boeing chega ao Salão Aéreo de Paris neste ano precisando fazer escolhas difíceis, que podem determinar quem vai liderar o duopólio de jatos comerciais: ela própria ou a Airbus.

Tentando se recuperar após seu modelo de aeronave mais importante ter sido impedido de voar após dois acidentes trágicos, a Boeing precisa reconsiderar o cronograma e a estratégia para novos modelos. A pressão aumentou porque a Airbus deve apresentar uma versão de longa distância do A321, potencialmente tirando mais clientes da rival americana no mercado cada vez mais importante de aviões com autonomia média de voo.

O jogo de gato e rato nos lançamentos da próxima década é um dos grandes problemas do presidente da Boeing, Dennis Muilenburg, nos encontros com clientes e no diálogo com o público no maior encontro do setor, que começa em 17 de junho em um aeródromo ao norte de Paris.

Ele precisa optar entre um avião para este segmento médio do mercado para conter a deserção da clientela para o A321 ou despejar US$ 15 bilhões ou mais em um sucessor do 737. Este último cenário ganhou urgência considerável. O Max já está impedido de voar há quatro meses e alguns clientes estudam cancelar pedidos definitivamente.

Se a Boeing não acertar, "a Airbus tem caminho aberto para conquistar 60% de participação de mercado nos próximos 10 a 15 anos", disse Henri Courpron, presidente e fundador da Plane View Partners. "A Airbus está esperando tranquilamente pela decisão da Boeing."

A dinâmica lembra um confronto em 2011, quando a Airbus abalou o equilíbrio de poder ao conquistar uma gigantesca encomenda da American Airlines, cliente antiga da Boeing, graças a uma nova opção de turbina para aviões de corredor único. O ocorrido forçou a Boeing a responder com o 737 Max, modelo que hoje está no centro da profunda crise que atinge a empresa.

No ano passado, a empresa europeia tirou da Bombardier o controle do A220, o avião tecnologicamente mais avançado do segmento. A Boeing revidou formando uma joint venture de aeronaves comerciais com a brasileira Embraer. A Boeing se recusou a discutir seus planos para o segmento médio do mercado ou para um eventual substituto do 737.

"Estou muito confiante na família Max de aeronaves", respondeu Muilenburg em 29 de maio, quando perguntado sobre um jato de corredor único para o futuro. "Então não mudamos nossas expectativas quanto à longevidade dessa linha. Mas continuaremos de olho em oportunidades futuras de produtos."

A Airbus não comentou sobre planos para qualquer anúncio de produto no Salão Aéreo de Paris ? o primeiro sob o comando do novo presidente Guillaume Faury.

American Airlines, a indiana IndiGo, a JetBlue Airways e o empreendedor de aviação David Neeleman já manifestaram interesse pelo A321XLR, novo modelo estudado pela Airbus para tirar clientes da Boeing no segmento médio. O mais novo A321 ficaria disponível em 2023 ou 2024, um ano antes do produto da Boeing, com autonomia para voar, por exemplo, entre a Europa Central e o coração dos EUA.

--Com a colaboração de Janan Hanna.

Repórteres da matéria original: Julie Johnsson em Chicago, jjohnsson@bloomberg.net;Benjamin D. Katz em London, bkatz38@bloomberg.net