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Centro financeiro de Londres perde bilhões à espera do Brexit

Silla Brush e Viren Vaghela

24/09/2019 15h20

(Bloomberg) -- Independentemente de o Reino Unido deixar a União Europeia sem acordo ou conseguir encontrar uma saída de última hora nas próximas semanas, o Brexit já afetou o setor financeiro de Londres.

Três anos e três primeiros-ministros desde o referendo, negociações complicadas e turbulência política minaram a confiança do segmento. Com isso, empresas financeiras podem ter de transferir milhares de empregos - e, possivelmente, 1 trilhão de libras (US$ 1,24 trilhão) em ativos - de Londres para outros centros financeiros.

Há sinais de resiliência: Londres aumentou sua liderança no comércio de derivativos de taxas de juros desde o referendo e a cidade continua sendo o único centro financeiro europeu no ranking da consultoria Z/Yen dos 10 melhores do mundo.

Ainda assim, Catherine McGuinness, presidente do comitê de políticas e recursos da City of London Corp., que supervisiona o distrito financeiro, disse que há poucas dúvidas de que o processo do Brexit esteja afetando os serviços financeiros, que respondem por 11% das receitas fiscais no Reino Unido.

"O Reino Unido precisa ser muito cuidadoso na forma como trata seu setor de serviços, porque pode perder mais do que precisa se não for", disse McGuinness em entrevista. "É claro que vamos perder alguns negócios da UE." Ela disse que "está muito preocupada com o curto prazo, especialmente se tivermos uma saída sem acordo".

Empregos

Os primeiros temores sobre a debandada de dezenas de milhares de empregos de Londres não se tornaram realidade. Mesmo assim, grandes bancos globais de investimento transferiram 1.000 postos para o continente europeu até agora e 7.000 poderiam facilmente ser transferidos no curto prazo, segundo a consultoria EY. Os bancos também se prepararam para transferir até 1 trilhão de libras em ativos para a UE, disse a EY em 19 de setembro, mas ainda não tomaram medidas concretas.

Repo

A CME Group., a maior bolsa do mundo, transferiu seu negócio de operações compromissadas de US$ 230 bilhões de sua plataforma BrokerTec para Amsterdã, de acordo com os dados mais recentes da empresa. A CME recebeu aprovação regulatória em março. Os cerca de US$ 40 bilhões em operações compromissadas do Reino Unido permanecem em Londres. Os acordos de recompra permitem que grandes investidores - como fundos mútuos - lucrem emprestando dinheiro parado no curto prazo para bancos e corretoras.

Provisões

A maioria dos grandes bancos do Reino Unido tem feito provisões para se preparar para uma desaceleração econômica ou aumento da inadimplência em um Brexit sem acordo.

Migração de seguro

Cerca de 61 bilhões de libras em negócios de seguros estão sendo transferidos. Os subscritores com sede no Reino Unido estão transferindo apólices mantidas por clientes europeus para unidades em Luxemburgo, Irlanda e em outros países: a Admiral Group, por exemplo, escolheu Madrid, tendo gastado entre 4 milhões e 5 milhões de libras para fazer a mudança.

--Com a colaboração de Will Hadfield, Stefania Spezzati e Jeremy Diamond.

Repórteres da matéria original: Silla Brush London, sbrush@bloomberg.net;Viren Vaghela London, vvaghela1@bloomberg.net