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Argentina aumenta concorrência para carne bovina uruguaia

Ken Parks

27/09/2019 14h06

(Bloomberg) -- A desvalorização cambial e preços baratos do gado podem transformar a Argentina em um concorrente de peso do Uruguai nos mercados globais de carne bovina até o fim de 2020, de acordo com um executivo veterano do setor.

Pecuaristas e frigoríficos uruguaios, que enfrentam tarifas de energia e mão de obra mais caras, além da escassez de gado, responderam aumentando a produtividade, disse Daniel de Mattos, presidente da Breeders & Packers Uruguay, uma unidade da NH Foods.

"O Uruguai está se tornando competitivo em um ambiente difícil, com altos custos e menor disponibilidade de gado, enquanto a Argentina e, em certa medida, o Brasil estão explorando a taxa de câmbio", disse De Mattos em entrevista na unidade da empresa, localizada na província de Durazno.

Os ganhos de produtividade devem dar ao Uruguai uma vantagem em preço e qualidade quando a Argentina perder sua vantagem cambial, disse. O peso argentino acumula queda de 34% em relação ao dólar este ano em meio à crise de confiança provocada pela perspectiva de retorno de medidas protecionistas. No mesmo período, o peso uruguaio mostra baixa de 12%.

A carne bovina é o principal produto de exportação do Uruguai em valor: os embarques aumentaram 6%, para US$ 1,27 bilhão na primeira quinzena de setembro, embora os volumes tenham ficado praticamente estáveis. A oferta de rebanho bovino caiu para o nível mais baixo em oito anos, de pouco menos de 11,2 milhões de cabeças no fim de junho, depois de anos de abates crescentes e envio de centenas de milhares de animais para unidades de processamento do Oriente Médio desde 2015.

De Mattos está otimista de que o rebanho possa crescer para 12,5 milhões de cabeças em cinco anos se os pecuaristas conseguirem reduzir custos e aumentar o número de bezerros. O Uruguai tem a oportunidade de não apenas repor seu rebanho, mas também aumentar a porcentagem de animais destinados ao abate ou exportação de animais vivos para até 28% do rebanho, em relação aos quase 24% hoje, disse.

O menor número de cabeças de gado não impediu o Uruguai de lucrar com a demanda chinesa por carne bovina da América do Sul, já que a peste suína africana dizimou plantéis de suínos. A China comprou 64% das mais de 338.000 toneladas de carne bovina pelo peso de carcaça que o Uruguai embarcou para o exterior até agora este ano, acima dos 49% no mesmo período de 2018, segundo dados compilados pela Agência Nacional de Carnes.

A China provavelmente será um grande comprador de carne uruguaia a bons preços até pelo menos 2023, disse De Mattos, que comanda o segundo maior frigorífico do país em abate.

Há muito tempo o Uruguai promove sua carne bovina como livre de hormônios, rastreável e engordada em vastas pastagens que também servem como um sumidouro de carbono. De Mattos acha que o governo e a indústria de carne bovina devem ser mais agressivos na promoção do Uruguai como produtor sustentável em meio aos protestos internacionais por incêndios florestais na Amazônia.

"Não precisamos queimar nenhuma árvore para criar gado", disse. "Em qualquer área de pastagem nativa do Uruguai, você tem mais de 200 espécies."

--Com a colaboração de Carolina Millan.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net