Fracasso da Aramco em atrair estrangeiros torna IPO evento local
(Bloomberg) -- Há dois anos, quando a oferta pública inicial da petroleira saudita Aramco estimulava a imaginação de investidores estrangeiros, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sentiu-se compelido a fazer lobby para que a venda de ações acontecesse no mercado americano."Gostaria muito que a Arábia Saudita fizesse o IPO da Aramco na Bolsa de Valores de Nova York," tuitou Trump em novembro de 2017.Hoje, a Saudi Aramco não está apenas ignorando Nova York - e outras bolsas internacionais - para a listagem, mas decidiu que nem sequer vai promover o IPO para investidores americanos, canadenses, europeus ou japoneses. Em vez disso, a Aramco depositou toda sua confiança nos sauditas ultrarricos, muitos dos quais foram pressionados a investir, para levar a oferta adiante. Os bancos sauditas estão flexibilizando as regras de financiamento para permitir que investidores locais comprem mais ações.
O IPO havia sido promovido como o mais forte sinal de mudança econômica na Arábia Saudita: a oferta que atrairia dezenas de bilhões de capital estrangeiro para o reino. No entanto, uma oferta reduzida de ações começa a parecer mais um imposto sobre a economia do país, já que investidores sauditas, grandes e pequenos, assumem o lugar dos gestores de recursos estrangeiros.Ainda pode ser o maior IPO do mundo, com potencial de levantar cerca de US$ 25 bilhões e avaliar a empresa entre US$ 1,6 trilhão e US$ 1,7 trilhão, bem acima dos recursos captados por grandes nomes do Vale do Silício. Mas o valor está abaixo dos US$ 100 bilhões que o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman disse que esperava levantar quando considerou o IPO pela primeira vez em 2016. Na época, ele visava uma valuation de pelo menos US$ 2 trilhões.
"A Arábia Saudita vem promovendo o IPO para se tornar mais focada nos investidores regionais há um tempo", disse Ayham Kamel, chefe de prática de Oriente Médio da consultoria Eurasia Group. "A demanda ocidental seria morna, devido ao valuation e risco geopolítico."
Tão fraco é o apetite internacional pela oferta, mesmo com um valuation mais baixo, que a Saudi Aramco decidiu no último minuto não promover o IPO nos EUA, Canadá e Japão - três mercados tradicionalmente vistos como destino obrigatório para qualquer grande oferta em Wall Street.
Os vários bancos de Wall Street, como Goldman Sachs, Morgan Stanley e JPMorgan Chase, com mandatos para vender as ações aos investidores estrangeiros, ficaram surpresos com a decisão repentina, segundo pessoas a par do assunto, que não quiseram ser identificadas comentando assuntos confidenciais.
Ignorar os EUA significa dizer adeus aos poderosos fundos de pensão americanos, com bilhões de dólares administrados em cidades como Boston e Los Angeles.
Na segunda-feira, os bancos da Aramco disseram a investidores em Londres e outras cidades europeias que os eventos de roadshow planejados para esta semana haviam sido cancelados.
Como sinal da mudança de planos da Aramco, a empresa publicou uma versão em inglês do prospecto atualizado mais de 24 horas depois da divulgação da versão em árabe com a faixa de preço-alvo no início do domingo.
"A faixa de valuation é maior do que a maioria dos investidores institucionais consideraria atraente", disse Neil Beveridge, analista do Sanford C. Bernstein & Co. "A faixa de preço da Aramco implicaria um valuation premium para as maiores petroleiras ocidentais em quase todas as métricas de avaliação."O novo valuation implica que a Aramco, que prometeu um dividendo de pelo menos US$ 75 bilhões no próximo ano, recompensará os investidores com um rendimento do dividendo entre 4,4% e 4,7%, abaixo do que outras grandes petroleiras pagam. A Exxon Mobil paga um dividendo de pouco menos de 5%, enquanto a Royal Dutch Shell paga 6,4%.
A diferença entre investidores locais e estrangeiros é que o príncipe Mohammed, que comanda o dia a dia na Arábia Saudita, tem influência em casa. No exterior, ele não tem quase nenhuma.
--Com a colaboração de Dinesh Nair, Jack Farchy, Matthew Martin, Archana Narayanan e Swetha Gopinath.
Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
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