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BOE ignora modelo Lagarde com liderança masculina milenar

Craig Stirling e Lucy Meakin

23/12/2019 13h59

(Bloomberg) -- Apenas algumas semanas depois de Christine Lagarde ter se tornado a primeira mulher a assumir a presidência do Banco Central Europeu, o Reino Unido optou por manter a tradição da política econômica: homens no comando.

A decisão deste mês de nomear Andrew Bailey como presidente do Banco da Inglaterra, além da manutenção de Sajid Javid no cargo que equivale ao ministro das Finanças, amplia o domínio exclusivamente masculino que já marca uma história de mais de 1.000 anos combinados das duas funções.

Isso mancha ainda mais o já fraco histórico de diversidade do novo governo do primeiro-ministro Boris Johnson. Apenas sete membros de seu gabinete - de um total de 23 - são mulheres. Quanto à política econômica, o quadro é pior: além dos altos cargos, Johnson não nomeou nem uma mulher como ministra na equipe de quatro que agora comanda o Tesouro com Javid.

Bailey se tornará o 121º homem a liderar o BOE desde a fundação da instituição, o que significa que, quando seu mandato terminar, o banco central britânico terá 333 anos de liderança masculina. O cargo de Javid, criado no século XII, nunca foi ocupado por uma mulher.

O Tesouro, comandado por Javid, também nunca teve uma mulher como secretária permanente, como é chamado o responsável pela pasta.

É difícil ver como a situação no BOE mudaria tão cedo. Atualmente, todos os quatro vice-governadores do banco central são homens, e a única mulher no alto escalão da instituição é Joanna Place, diretora de operações. Há apenas uma mulher no comitê de política monetária, com nove membros.

Problema sério

"Não há vice-governadora, o que é loucura", disse Vicky Pryce, ex-cochefe do Serviço Econômico do Governo. "De onde virão essas mulheres no futuro se essa geração não puder mais chegar lá? O pipeline é um problema sério. Eles terão que começar a trabalhar agora, a menos que decidam trazer alguém de fora da próxima vez."

Javid, responsável pela nomeação do BOE, tinha mulheres para escolher. A ex-vice-presidente do BOE, Minouche Shafik, diretora da London School of Economics - que também foi vice de Lagarde no FMI -, e a presidente do conselho do Santander UK, Shriti Vadera, eram consideradas possíveis candidatas. Helena Morrissey, gestora de fundos, também almejava o cargo.

Javid afirma se preocupar com a diversidade, enfatizando o assunto ao descrever a adequação do novo presidente ao cargo. Atualmente, Bailey é presidente da Autoridade de Conduta Financeira (FCA, na sigla em inglês).

"Destacaria particularmente seu orgulhoso histórico de aumentar a diversidade da equipe de liderança sênior da FCA", disse Javid. "Sob sua liderança, ele está comprometido em tornar o banco uma instituição mais aberta e diversificada."

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Craig Stirling Frankfurt, cstirling1@bloomberg.net;Lucy Meakin em London, lmeakin1@bloomberg.net