Combate à mudança climática cria geração de bilionários 'verdes'
(Bloomberg) -- Quatro acionistas de uma gigante chinesa de baterias de veículos elétricos acumularam uma fortuna combinada de US$ 17 bilhões. Um empresário australiano criou patrimônio líquido de US$ 7 bilhões com reciclagem. Uma participação em uma transportadora de células de hidrogênio combustível cunhou um bilionário nos Estados Unidos.
Essas estão entre as dez maiores fortunas derivadas principalmente do crescente negócio de soluções climáticas, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Com patrimônio líquido combinado de US$ 61 bilhões no fim de 2019 - cerca de três vezes a capitalização de mercado da empresa de serviços de petróleo Halliburton -, os bilionários nessa lista representam a emergência de uma vanguarda super-rica no combate contra o aquecimento global.
A lista exemplifica o crescente peso e diversidade da economia verde. Vai de nomes conhecidos como Elon Musk, CEO da Tesla, a fundadores mais discretos de algumas das maiores empresas da China. Sua ascensão ao ápice do capitalismo foi sustentada por uma demanda fervorosa dos investidores.
Os investimentos em empresas que abordam as mudanças climáticas ou incentivam práticas sustentáveis ??estão aumentando. Os ativos administrados que usam uma ampla definição dessa abordagem - integrando fatores ambientais, sociais e de governança nas decisões de investimento - atingiram US$ 30,7 trilhões no início de 2018, cerca de 30% a mais do que há dois anos, de acordo com relatório financiado por um grupo de instituições financeiras, que incluem a Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News. A popularidade dos investimentos verdes, uma das áreas de crescimento mais rápido em finanças, é agora tão grande que parlamentares europeus desenvolvem regras para defini-los.
"A próxima grande história de sucesso são as finanças verdes", disse William Russell, prefeito da City of London, distrito financeiro de Londres, em entrevista à rádio Bloomberg em dezembro. "O momentum nesse espaço é enorme."
A crescente demanda por alimentos à base de plantas poderá produzir, em breve, dois bilionários: o fundador da Beyond Meat, Ethan Brown, e o CEO da Impossible Foods, Patrick Brown (não são parentes), possuem participações no valor de centenas de milhões de dólares em suas respectivas empresas. Ambas criaram um mercado para substitutos da carne que não embutem o custo ambiental da pecuária, responsável por 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa.
"A riqueza verde depende muito de tecnologias inovadoras que tenham êxito, o que significa que essas fortunas podem ser destruídas em um piscar de olhos", disse Kingsmill Bond, estrategista de energia do Carbon Tracker, um think tank que avalia o impacto das mudanças climáticas nos mercados de capitais e investimentos em combustíveis fósseis. "Mas pessoas que encontrem novos nichos nessa nova economia serão donas da riqueza do futuro."
Um exemplo é Mário Araripe, um magnata brasileiro que construiu fortuna no setor imobiliário antes de apostar na lucrativa promessa da energia eólica. "O hino nacional do Brasil diz que o país é gigante pela própria natureza", disse em 2017. Segundo ele, as pessoas sempre associam esse trecho do hino ao ouro ou outros tesouros subterrâneos, mas ele atribui essa riqueza ao "vento".
Tais fortunas sustentáveis ??provavelmente serão impulsionadas por capital. Investidores - especialmente os family offices dos super-ricos - focam suas estratégias cada vez mais em sustentabilidade. O TCI Fund Management, empresa administrada pelo gestor de hedge funds Christopher Hohn, alertou recentemente empresas de seu portfólio para intensificarem ações de combate à mudança climática. Do contrário, correm risco de desinvestimento.
Se esse ambiente continuar a se consolidar, poderá refazer o ranking global de fortunas.
--Com a colaboração de Venus Feng, Andrew Heathcote, Blake Schmidt, Feifei Shen, Jack Witzig, Brian Parkin, Pierre Paulden e Charles Penty.
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