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Petróleo ensaia recuperação após choque de preços negativos

James Herron, Grant Smith, Debjit Chakraborty e Sheela Tobben

20/05/2020 11h17

(Bloomberg) -- Para a commodity mais importante do mundo, nunca houve um mês semelhante.

Há apenas algumas semanas, o petróleo era comparado ao resíduo industrial em algumas partes do mundo, algo que era preciso pagar para que as pessoas levassem. Agora, os preços sobem, com alta de cerca de 70% em Nova York desde o início de maio.

A recuperação, que é comemorada por governos em Riad, Moscou e Washington, veio mais rápido do que a maioria esperava, mas não foi fácil. Os profundos cortes na produção de Opep+ e os arriscados primeiros passos em vários países para flexibilizar o isolamento social tiraram o mercado do abismo dos preços negativos, mas ambas as medidas podem não funcionar.

"Acho que o pior já passou", disse Pierre Andurand, diretor de investimentos e fundador da Andurand Capital Management. "A Opep+ cortou o suficiente, e a demanda vai se recuperar de forma lenta e gradual."

Na tarde de 20 de abril, operadores em pânico empurraram a cotação de referência dos EUA abaixo de zero pela primeira vez na história. Em um dos mais extraordinários intervalos de 20 minutos na história dos mercados financeiros, o WTI caiu para US$ 40,32 por barril negativos, impressionando desde corretores veteranos a investidores de varejo.

Dois grandes fatores mudaram desde então.

Primeiro, a enorme quantidade de petróleo indesejado começa a diminuir. A Arábia Saudita encerrou a guerra de preços com a Rússia e parou de inundar o mercado com produção recorde. Então, a dupla liderou aliados na aliança Opep+ para fazer os cortes de produção mais profundos e mais rápidos já registrados.

As empresas de gás de xisto dos EUA também fecharam poços não rentáveis a um ritmo sem precedentes.

Até 17 milhões de barris de petróleo por dia serão retirados do mercado no próximo mês, disse Mohammad Barkindo, secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, em entrevista à Bloomberg TV.

Ao mesmo tempo, a queda de 30% do consumo global de petróleo vista em abril está desacelerando. Sinais de recuperação surgem no mundo todo com a reabertura de empresas e retorno de motoristas às estradas de Berlim a Pequim.

"As preocupações sobre o planeta ficar sem lugar para armazenar petróleo e produtos evaporaram", disse Judith Dwarkin, economista-chefe da RS Energy. "Os preços de quase um mês no mercado físico levam isso em consideração, bem como as perspectivas futuras."

O chamado "Abril Negro" pelo diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, já é passado, mas o mercado ainda enfrenta riscos consideráveis.

A reabertura de economias na Ásia, Europa e Américas será difícil e poderá ser adiada a qualquer momento por uma segunda onda de infecções de Covid-19. E o entusiasmo para cortar a produção mostrada por produtoras de gás de xisto dos EUA ou pela Opep+ pode esfriar.

A vacilante recuperação da crise econômica asiática de 1998 pode servir de guia, disse Greg Sharenow, gestor de recursos com foco em energia e commodities da Pacific Investment Management.

"Tivemos muitos ralis, muitas ondas vendedoras" nos 18 meses após o choque inicial do preço do petróleo, disse Sharenow em entrevista em Newport Beach, Califórnia. Há uma forte recuperação agora, mas ele destaca os "números do desemprego no mundo todo e choques de renda. Essas são forças opostas bastante poderosas".

©2020 Bloomberg L.P.