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Google fica no centro de "batalha cultural" do Vale do Silício

10/08/2017 10h02

Mario Villar.

Nova York, 10 ago (EFE). - Um polêmico texto interno e a demissão do seu autor colocaram o Google no centro de uma "batalha cultural" no Vale do Silício, na Califórnia (Estados Unidos), e de um debate que vai do machismo no mundo da tecnologia ao que, para alguns, é um excesso de correção política nas empresas do setor.

James Damore, um engenheiro do gigante tecnológico, abriu a mais recente discussão com um documento de dez páginas em que critica os esforços da companhia rumo à igualdade de gênero.

No texto ele argumenta, entre outros aspectos, que a menor presença de mulheres nas empresas de tecnologia e nos postos de liderança se deve a "diferenças biológicas e de personalidade" entre os gêneros e defende o fomento à diversidade ideológica ao invés de iniciativas favoráveis às minorias.

Em meio a uma enorme polêmica, o Google decidiu demitir Damore na segunda-feira, por considerar que o seu manifesto viola o código de conduta da empresa e promove prejudiciais "estereótipos de gênero".

Longe de acalmar a crise, boa parte da imprensa americana descreve a questão como uma "batalha cultural" na indústria tecnológica.

Damore já adiantou que pretende processar o Google, ainda que especialistas jurídicos acreditem que ele não tenha muito sucesso nessa empreitada. Antes mesmo de ser demitido, o engenheiro apresentou uma queixa trabalhista na segunda-feira, na qual acusava à empresa de tergiversar as suas palavras para silenciar sua opinião.

Além de uma possível batalha legal, Damore conseguiu se tornar um herói para muitos conservadores americanos e suas queixas sobre o que consideram que é uma cruzada de certas elites contra as suas convicções.

O portal de notícias "Breitbart News", um dos favoritos da nova direita americana, defendia nesta semana o memorando do ex-funcionário, de 28 anos, e acusava o Google de criar "listas negras" para prejudicar trabalhadores com ideias políticas divergentes.

Anteontem, Damore - para quem o fundador de WikiLeaks, Julian Assange, ofereceu emprego - defendeu o que pensa em uma longa entrevista a Stefan Molyneux, blogueiro defensor da luta contra a "correção política" e dos ideais de diversidade dos progressistas.

A chamada "alt-right", um dos apoios mais fieis do presidente americano, Donald Trump, mira no Vale do Silício há muito tempo, já que é visto como símbolo da globalização e de políticas mais liberais.

Por outro lado, o Google e toda a indústria da tecnologia, majoritariamente composta por homens brancos, estão pressionados pela falta de diversidade e por uma cultura empresarial considerada machista por muitos, principalmente por simpatizantes da esquerda.

As reiteradas denúncias de assédio sexual e descriminação, por exemplo, provocaram nos últimos meses, por exemplo, a saída de boa parte da direção do Uber, um dos projetos mais bem-sucedidos do Vale do Silício.

No caso do Google, atualmente as mulheres representam um terço do quadro de funcionário e só 20% da equipe técnica. Ontem, o jornal britânico "The Guardian" publicou que cerca de 60 representantes do sexo feminino que trabalham ou trabalharam no Google estão preparando uma denúncia coletiva sobre machismo e diferenças salariais na empresa.

Recentemente, o Departamento de Trabalho do Estados Unidos investigou um caso aberto sobre o fato de sistematicamente o Google pagar menos para mulheres, iniciativa que fez a Justiça exigir que a empresa forneça seus dados salariais para uma análise.