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Truques de beleza que são extraídos da floresta

30/07/2018 06h07

Belén Delgado.

Roma, 30 jul (EFE).- Sem sair das florestas tropicais, as comunidades que as habitam fornecem à indústria cosmética global ingredientes, conhecimento e até uma conexão renovada com a natureza na elaboração de cremes faciais, sabonetes e óleos.

Tradicionalmente os produtos de beleza e higiene costumavam ser obtidos das plantas, animais e minerais, muitos deles de origem florestal, mas a indústria se encarregou depois de encher o mercado de substâncias sintéticas, sobretudo derivados do petróleo e do gás natural.

Nos últimos anos, no entanto, a maior consciência social com o meio ambiente e a saúde influenciou no uso crescente de cosméticos naturais e orgânicos em nível mundial, segundo um estudo feito pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Se em 2014 esse setor tinha um valor estimado de US$ 460 bilhões, em 2020 poderia atingir os US$ 675 bilhões.

As comunidades florestais viram nessa tendência uma oportunidade de aumentar suas rendas, como na reserva de Nilgiri, no sul da Índia.

"Lá as pessoas indígenas vivem da agricultura, do artesanato e do pastoreio, mas sempre em coexistência com as florestas e conectadas com a natureza, disse à Agência Efe Shiny Rehel, coordenadora de um programa da fundação Keystone na região.

Rehel ajuda a população local a potencializar o uso de uma espécie conhecida como saponaria, que serve para limpar e lavar, mas também como medicamento e pesticida.

"Necessitamos desenvolver o produto, já que ainda temos uma receita básica, e agregar valor, pois uma vez coletado ele continua sendo comercializado como matéria-prima, através de intermediários que o levam até países como Bélgica e Alemanha com o selo de comércio justo", explicou a coordenadora.

Na sua opinião, esses grupos de pessoas vulneráveis devem ainda aprender a formular o produto, seja um xampu de ervas ou um sabão, e guardar a documentação para defender seus direitos intelectuais, sem se descuidar de outras tarefas, como evitar a superexploração do recurso e armazená-lo em boas condições.

A assessora do Programa de troca de produtos não madeireiros Nola Andaya garantiu que "os conhecimentos tradicionais continuam inspirando a indústria dos cosméticos", que movimentou US$ 3,7 trilhões em 2018 no mundo todo.

Um estudo dessa rede de 60 ONGs examinou as perspectivas que oferecem diferentes produtos florestais na região da Ásia-Pacífico para o cuidado da pele, do cabelo e do corpo em geral.

São desde o Rhamnus, um arbusto que cresce no Himalaia, até o konjak típico do Camboja, o langsat das Filipinas e a cúrcuma da Índia, que não é estranho ver misturada com mel, leite ou coco.

O sândalo é outra das essências com nicho de mercado em nível internacional, o que já levou ao esgotamento de seu comércio no século XIX: então a falta de regulação e os preços lucrativos fizeram com que as reservas fossem dizimadas nas ilhas do Pacífico.

Agora, o pouco que é produzido nesses lugares, sobretudo em Vanuatu, procede principalmente das florestas, enquanto na Austrália foi criada uma grande plantação.

Por outro lado, no Vietnã, a tribo dos dzao vermelhos encontrou um valor turístico em seus banhos a partir de uma variedade de plantas medicinais colhidas na floresta e, para reforçar o seu negócio, abriram uma empresa.

Também foram construídas fábricas de processamento e empacotamento nos próprios países tropicais, disse a especialista indonésia Nuning Barwa, em relação à expectativa de que o mercado do orgânico e natural movimente no mundo US$ 20 bilhões até 2024.

Andaya se mostrou, no entanto, cautelosa, já que as comunidades podem receber muito pouco em comparação com o alto preço que se chega a pagar por esses produtos, e elas necessitam ter acesso a recursos e conhecimentos (o que nem sempre é possível) para ficar dentro dos padrões e defender a qualidade de sua matéria diante de outros competidores.