IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Domésticas dizem "basta" e vão ao Congresso dos EUA lutar por direitos

21/01/2019 10h02

Javier Romualdo.

Washington, 21 jan (EFE).- As empregadas domésticas dos Estados Unidos decidiram dizer basta aos abusos cometidos pelos patrões e partiram para Washington a fim de cobrar os políticos do Congresso para tentar ampliar os direitos trabalhistas da categoria.

Grande parte reclama das jornadas de trabalho, que podem chegar a 90 horas, da exigência de se dormir fora de casa e de outros problemas enfrentados pelas milhares de domésticas do país.

"Trabalho o dia todo, todos os dias. Quando meus patrões me chamam, sempre digo sim. Mas agora estou bem, antes vivi muitas injustiças. Um deles (patrões) abusou sexualmente de mim", contou María del Carmen, em entrevista à Agência Efe nos corredores da sede do Congresso americano.

María del Carmen viajou desde a Filadélfia acompanhada de outras domésticas que atuam em diferentes cidades do país para pedir apoio dos congressistas e aprovar a primeira Carta de Direitos para as Trabalhadoras do Lar.

"Eu trabalho com tudo. Cuido de crianças, cuido de idosos, limpo casas, o que me propuserem... Dá pra escrever um livro sobre as pessoas boas e as não tão boas assim", explicou a mulher, que nasceu no México e vive nos Estados Unidos há 24 anos.

"Passei por muitas situações, muitas, como ocorre quando se chega em um país novo em circunstâncias como as minhas. Olha, uma vez fui trabalhar muito longe, não tinha internet, e dormi do lado de fora da casa, na neve, sozinha, porque não havia transporte e eu não conseguia ligar para ninguém", lembrou ela, aos prantos.

A esperança, porém, estava escancarada nas expressões das domésticas que foram convocadas pela Aliança Nacional de Trabalhadoras do Lar para visitar o Congresso. Elas compartilham o orgulho que sentem da atividade que executam e exigem direitos trabalhistas que há décadas são negados.

No entanto, agora sentem que eles estão mais perto do que nunca de serem conquistados.

"As trabalhadoras do lar são um coletivo que foi excluído da maioria das leis trabalhistas do país durante gerações, desde 1930. Queremos eliminar essa discriminação, criando formas de proteção e formação para dar dignidade e respeito a esse trabalho", explicou a diretora da organização, Ay-jen Poo.

No Congresso, as domésticas participaram de uma reunião com parlamentares, membros da Aliança Nacional de Trabalhadoras do Lar, outras mulheres e ativistas. Os relatos feitos pelas domésticas impressionam pelas situações de abuso que passaram por acreditar que ninguém as defenderia legalmente.

Natalícia Tracy foi trazida do Brasil por uma família para trabalhar como babá, mas passou dois anos em um regime de escravidão, trabalhando 90 horas por semana e sem conseguir falar uma palavra sequer em inglês.

"Eu morava na casa deles, estava sozinha e não tinha ninguém. Eles controlavam meu passaporte", revelou a brasileira à Efe.

Ela, porém, conseguiu deixar o local, se mudou, começou a estudar inglês, aprendeu o idioma e, com tempo e esforço, se graduou em Direito pela Universidade de Boston.

Exemplo para outras domésticas, Tracy agora trabalha para que outras tenham as mesmas oportunidades que ela. O primeiro passo já foi dado. A brasileira, junto com outras ativistas, conseguiu que o estado de Massachusetts aprovasse uma declaração de direitos para a categoria. Agora, o objetivo é levar a medida para todo o país.

"Não podemos deixar passar mais tempo", disse em discurso a senadora Kamala Harris, da Califórnia, uma das principais defensoras da Carta de Direitos das Trabalhadoras Domésticas, ao lado da congressista Pramila Jayapal, do estado de Washington.

"Quando falamos das vozes dos vulneráveis não estamos falando de pessoas frágeis. Essas mulheres são pessoas de grande força", completou Harris, que é cotada para ser uma das candidatas do Partido Democrata à presidência dos EUA em 2020. EFE