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Como fazer turismo em um país que não existe mais: a Iugoslávia

02/06/2019 06h03

Belgrado, 2 jun (EFE).- Uma viagem nostálgica a um país que já nem sequer existe é a oferta da empresa Yugotour, que leva turistas para conhecer como foi a Iugoslávia socialista através dos prédios, dos objetos e até dos veículos que marcaram uma época.

A República Federativa Socialista da Iugoslávia deixou de existir oficialmente em abril de 1992, quando se fragmentou em meio a vários conflitos bélicos em Bósnia, Croácia, Macedônia, Eslovênia e República Federal da Iugoslávia, que, por sua vez, se dividiu em Sérvia e Montenegro em 2006.

Apesar do banho de sangue no qual acabou, o país continua despertando curiosidade e fascinação entre muitos visitantes estrangeiros, um interesse explorado por agências especializadas como a Yugotour.

"Temos muitos visitantes de quase todo o mundo, sobretudo da Europa Ocidental", contou à Agência Efe Nebosja Hinic, um dos guias de uma agência que recebe cerca de 5.000 turistas por ano.

Visitantes que percorrem a cidade em um Yugo, carro de produção iugoslava que foi o rei das estradas do país comunista nos anos 80.

Um desses turistas é o inglês Josh Newsome, que visita Belgrado por causa de seu interesse na história e na arquitetura do país.

"O fascinante da Iugoslávia é que foi um país não alinhado. Para nós é interessante encontrar diferentes experiências das pessoas que viviam aqui, que projetavam os prédios, a cidade, ver qual era a estratégia do Governo", explicou Newsome.

Para este inglês de 27 anos, é de especial interesse comparar a forma de vida não só com a Europa Ocidental, mas com outros países socialistas da Europa do Leste sob a órbita da União Soviética.

Apesar de ser um país socialista, a Iugoslávia ficou do outro lado da chamada Cortina de Aço, não foi parte do Pacto de Varsóvia e se manteve mais perto, e mais aberta, ao Ocidente.

Sob a liderança do ditador Josip Broz Tito, falecido em 1980 após 35 anos no poder, desenvolveu um bem-sucedido modelo econômico e social próprio.

Uma das atrações turísticas é a arquitetura brutalista, caracterizada pela robustez, funcionalidade e, inclusive, feiura dos prédios nos quais o concreto é o material predominante.

Nova Belgrado, a parte moderna da cidade construída após a Segunda Guerra Mundial, é um claro exemplo de um estilo que foi um símbolo da rápida modernização e do entusiasmo desenvolvimentista.

"Os apartamentos eram muito funcionais. Prestava-se muita atenção às áreas verdes nos edifícios, e não há dúvida de que a arquitetura era voltada para a pessoa como indivíduo, mas também como parte da comunidade", disse Hinic.

As duas torres de 135 metros do edifício Genex, chamado assim pela empresa que financiou sua construção em 1980, são um dos exemplos da prosperidade alcançada pelo país.

Agora, os escritórios estão vazios após a falência do antigo consórcio, e os arredores do edifício estão descuidados.

"Devemos tentar preservar o máximo possível a história moderna. Acredito que se deixarmos que esses restos desmoronem, lamentaremos no futuro", opinou Newsome.

No centro de Belgrado, o museu Yugodom (Yugohogar) oferece ao visitante a possibilidade de viajar para o passado através do celular e de outros objetos da vida cotidiana.

"Todos os objetos são feitos na Iugoslávia", explicou à Efe o designer Mario Milakovic, fundador do Yugodom.

"O prédio é do realismo socialista, e o projeto interior é o que chamamos de modernismo", contou sobre este edifício do final da década de 1950, no qual são expostos objetos do período entre 1960 a 1980.

Aqui podem ser vistos sofás, vitrines, poltronas, televisores, aparelhos de rádio, telefones, cartazes de filmes, lâmpadas, cinzeiros, relógios e pratos que os iugoslavos usavam.

A nostalgia por uma época que muitos sérvios lembram como os bons velhos tempos se manifesta no resultado de um pesquisa realizada no ano passado, segundo a qual a maioria dos sérvios votaria hoje em Tito se concorresse em uma eleição.

"O povo entende que a Iugoslávia era um Estado, com 'E' maiúsculo", explicou Danilo Sarenac, do Instituto de História Contemporânea.

"Apesar dos defeitos, sobretudo na esfera de liberdades políticas, está claro que existia um sistema ordenado, com normas claras. Algo que faz falta agora aos cidadãos", avaliou.

Sarenac lembrou também que a economia da Iugoslávia socialista alcançou níveis próximos aos dos países desenvolvidos, e muito acima dos atuais na Sérvia. EFE