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Rússia proíbe voos para Geórgia e atinge em cheio o turismo no país vizinho

08/07/2019 12h26

Misha Vignanski.

Moscou/Tbilisi, 8 jul (EFE).- As tensões entre Rússia e Geórgia, que não têm laços desde 2008, aumentaram nas últimas semanas não apenas em nível político, mas também no âmbito econômico, depois que o Kremlin decretou a suspensão de voos entre os dois países, o que representa um duro golpe contra a indústria turística georgiana.

"Estou surpresa. Estou perdendo meu trabalho. 80% de meus turistas eram russos. Cancelaram todas as excursões reservadas!", disse à Agência Efe a guia profissional Irina Baramidze.

Por sua vez, o presidente da Federação de Hotéis e Restaurantes da Geórgia, Shalva Alaverdashvili, disse à Efe que o país perderá até o fim deste ano US$ 715 milhões pelas restrições russas, um número que coincide com os cálculos da Administração Nacional de Turismo.

Segundo Alaverdashvili, os turistas russos cancelaram 80% das reservas nos balneários de Adjara, no Mar Negro, e no total dos destinos turísticos georgianos os cancelamentos chegam a 60%.

A Rússia é o país de origem da maioria dos turistas que viajavam à Geórgia, com cerca de 1,4 milhão de visitantes russos em 2018, seguido de Armênia, Azerbaijão, Turquia e Ucrânia.

Neste ano, mais de 540 mil turistas russos visitaram a Geórgia e o país esperava alcançar 1,8 milhão de visitantes da Rússia.

Em pleno centro de Tbilisi, a proibição de voos, que entrou em vigor nesta segunda-feira, já está sendo notada.

No famoso restaurante KGB, os garçons disseram à Efe que "provavelmente ganharemos menos ou alguém perderá o emprego" pelo impacto das restrições russas ao turismo.

Larissa, uma mulher de meia idade, vende souvenirs, mas agora seu negócio está ameaçado. "Olha, hoje os restaurantes estão quase vazios. E quem comprava meus artigos eram sobretudo os russos. O que vou fazer? Resta a esperança de que eles ainda virão", afirmou a comerciante.

Por enquanto, o voo SU 1983 da companhia russa Aeroflot foi o último entre os dois países a aterrissar hoje em Moscou procedente de Tbilisi, após um decreto assinado em 21 de junho pelo presidente russo, Vladimir Putin.

O governante justificou essa medida alegando que tinha que "garantir a segurança nacional da Rússia e a proteção dos cidadãos russos diante de ações delitivas e ilegais".

A restrição foi imposta no meio de uma crise institucional suscitada na Geórgia pela visita de um deputado russo que, durante um ato em junho, se sentou na poltrona do presidente do parlamento georgiano, provocando protestos maciços de georgianos enfurecidos, que acabaram resultando em distúrbios que deixaram 240 pessoas feridas.

A Geórgia rompeu relações diplomáticas com a Rússia após a guerra de cinco dias em agosto de 2008 na região separatista georgiana da Ossétia do Sul, que terminou com vitória das forças russas.

Os protestos em Tbilisi continuam, mas com menor intensidade, e os turistas russos dizem que se sentem "seguros".

Duas amigas de Kazan, Angelina e Aliona, lamentaram as "dificuldades que já estão sendo notadas" pela medida, porque viajaram à Geórgia em um voo direto e terão que retornar fazendo uma escala em Baku, no Azerbaijão.

Seis companhias russas operavam rotas para a Geórgia: Aeroflot, S7, Ural Airlines, Pobeda, Red Wings e Nordavia. Neste domingo, as georgianas Georgian Airways e MyWay Airlines também realizaram seus últimos voos. O Ministério dos Transportes da Rússia alega que elas devem à Rússia mais de US$ 800 mil.

A Georgian Airways disse à Efe que, até o final da temporada de verão (no hemisfério norte), realizará voos de Yerevan (Armênia) à cidade georgiana de Batumi, no Mar Negro, "para transportar os turistas da Rússia".

"Estamos bem aqui, temos vontade de voltar, mas não sabemos como serão as relações entre os dois países. A política interveio mais uma vez", declararam as duas amigas russas.

A situação ainda pode piorar, segundo Alaverdashvili, devido aos graves insultos a Putin feitos neste domingo por um apresentador da emissora de televisão privada "Rustavi 2".

O governo russo considerou hoje "inaceitáveis" os insultos e o Ministério das Relações Exteriores exigiu uma condenação unânime contra esse "ataque verbal" de organizações internacionais e regionais.

O governo georgiano já qualificou de "provocação repugnante" as palavras do apresentador, cujo objetivo é "desestabilizar o país", mas a resposta econômica da Rússia não demorou.

O chefe do partido governista Rússia Unida na Duma do Estado, a Câmara dos Deputados russa, Sergei Neverov, anunciou que os legisladores abordarão hoje se também suspenderão o fornecimento de vinho georgiano e água mineral para a Rússia, assim como as transferências de dinheiro para o país.

A Rússia é o principal mercado do vinho georgiano engarrafado, com 25 milhões de garrafas exportadas pela Geórgia no primeiro semestre de 2019, segundo o jornal russo "Gazeta.ru". EFE