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Argentina fecha exportação de carnes por 30 dias para conter inflação

19/05/2021 03h47

Buenos Aires, 18 mai (EFE).- O governo da Argentina decidiu suspender por 30 dias as exportações de carne bovina, um dos motores de sua economia, enquanto finaliza "medidas emergenciais" contra o aumento dos preços no mercado interno, decisão que tem gerado polêmica e levou organizações agrícolas a convocar uma greve.

"Não podemos continuar vendo como os preços da carne sobem sem justificativa. O mais impressionante é que o preço da carne cresce e o consumo cai. Não é que o preço sobe porque a demanda cresce. Hoje consumimos o nível mais baixo de carne. E os preços crescem sem parar", criticou nesta terça-feira o presidente Alberto Fernández.

Em declarações à "Rádio 10", o presidente considerou que "a questão da carne saiu do controle" e foi contundente: "O que temos que fazer é colocar o preço da carne novamente em linha com a possibilidade de compra de um argentino, não com o poder de compra daqueles que exportam do exterior".

EVITE "PRÁTICAS ESPECULATIVAS"

O Ministério de Desenvolvimento Produtivo da Argentina, um dos países com maior consumo de carne bovina, mas que caiu ao mínimo histórico devido à situação econômica - a inflação acumulada nos primeiros quatro meses do ano foi de 17,6% -, informou que "em decorrência do aumento sustentado do preço da carne bovina no mercado interno", foi decidido implementar um conjunto de medidas "emergenciais" destinadas a "ordenar o funcionamento do setor".

Também para "restringir as práticas especulativas, melhorar a rastreabilidade das exportações e evitar a evasão fiscal no comércio exterior".

Assim, enquanto estas medidas estão sendo implementadas, foi anunciado que as exportações de carne bovina seriam encerradas por um período de 30 dias.

Uma decisão que Fernández comunicou aos representantes do setor que compõem o Consórcio dos Exportadores de Carnes Argentinas.

"A conversa com os exportadores foi muito correta, em um bom tom. Eles compreendem o problema. Eles não gostam da solução, é claro, mas eles entendem. Eu falei para eles: 'ajudem a colocar o mercado interno em ordem e abrimos as exportações'", esclareceu o presidente.

O "BOOM" DA CHINA

Fernández destacou que em 2019, quando chegou ao poder após o governo de quatro anos do conservador Mauricio Macri, recebeu uma "abertura total ao setor".

"Cada vez o peso do boi abatido é menor, a única coisa que aumentou foi o preço da carne, que passou de 250 pesos (US$ 2,66) para cerca de 800 pesos (US$ 8,50) por quilo de assado, para tomar um exemplo. Isso significa que não é verdade que a abertura e a liberdade favorecem os mercados. Favorecem sempre os mais poderosos, neste caso aqueles que produzem", frisou.

O presidente fez referência ao "boom" da China como demanda por carne argentina, já que hoje 75% do que é exportado vai para o gigante asiático: "O que aconteceu também é que como a demanda foi tão grande o preço internacional subiu, esses preços passaram a competir com os preços do mercado interno".

"Tem sido uma grande tentação da China comprando carne, porque eles pagam preços altíssimos e para todos se torna uma oportunidade única", enfatizou, e pediu para "acabar com os exportadores que exportam carne como exportam camisas", lembrando que "para poder ser exportador de carne, é necessário atender a certos requisitos".

A medida, além de gerar fortes críticas por parte de opositores e representantes do setor de exportação, levou a Comissão de Ligação das Entidades Agropecuárias a pedir a suspensão da comercialização de todas as categorias de gado bovino de 20 a 28 de maio.

No mês de abril, as quatro maiores associações patronais do setor agrícola rejeitaram outras medidas anunciadas pelo governo para tentar conter a escalada dos preços dos alimentos no mercado interno, que já estabelecia maiores exigências para a exportação de carne bovina.