Iranianos se mostram preocupados com crise econômica e apáticos sobre eleição
Teerã, 17 jun (EFE).- A crise econômica é a principal preocupação da população do Irã, que está decepcionada e com poucas esperanças de melhorias sociais antes das eleições presidenciais desta sexta-feira, nas quais se espera uma baixa participação nas urnas.
Para este ano, a inflação deve atingir 39%, com um crescimento econômico de 2,5%. Em 2019, a economia iraniana já tinha mergulhado 6,8% como resultado direto das sanções dos Estados Unidos, e em 2020 teve leve recuperação de 1,5%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os problemas econômicos e os altos preços dos alimentos e da moradia afetam diariamente os aspectos mais básicos da vida da população, que manifesta perda de confiança no sistema, o que se reflete na participação eleitoral.
De acordo com os resultados divulgados pelo instituto de pesquisas iraniano ISPA, das 6.650 pessoas entrevistadas, apenas 38% votarão nas eleições presidenciais, embora outras pesquisas prevejam uma participação de 45%, que, no entanto, ainda é muito baixa para os padrões do país.
DESAPONTAMENTO COM O SISTEMA.
Uma grande parte da população perdeu a esperança e não vê mais muita diferença entre os dois blocos políticos do país: os conservadores e os reformistas. Dos cerca de 100 cidadãos de diferentes classes sociais e tendências entrevistados pela Agência Efe, apenas uma disse que iria votar, mas foi forçado a fazê-lo.
"Preciso do meu emprego, e se eu não votar, vão me demitir, porque no meu escritório eles verificam os documentos de identidade para ter certeza de que contêm o carimbo eleitoral", afirmou Zahra, uma funcionária pública de 58 anos.
Entre algumas das razões apresentadas pelos que não vão votar estão que "nenhum dos candidatos é digno" ou que "o sistema não permitirá que o presidente resolva os problemas do país".
Reza, um engenheiro de 38 anos, disse à Efe no Grande Bazar de Teerã que "mesmo que, em vez de ladrões, pessoas dignas fossem qualificadas (como candidatos), o futuro presidente não teria poder".
"Esta não é apenas minha opinião, foi revelado pelos próprios governos do sistema que durante mais de 40 anos, desde a revolução, nada fizeram em favor do povo, enquanto as instituições paralelas (e não eleitas pelo voto popular) cresceram a cada dia", lamentou.
MEDO E INDIFERENÇA.
Sete candidatos foram registrados para esta eleição presidencial, sendo cinco conservadores e dois de tendência reformista. Ao longo da semana, três deles anunciaram sua desistência para apoiar concorrentes melhores posicionados e o claro favorito é o clérigo ultraconservador e chefe do Judiciário, Ebrahim Raisi.
Na opinião de Omid Baqeri, um comerciante com vários anos de experiência no coração do Grande Bazar, a escolha do presidente não depende dos cidadãos, vários dos candidatos são coadjuvantes, e "a situação no país é miserável e preocupante".
"(O novo presidente) é algo que já está determinado há tempo, já é conhecido de todos. O Irã ultrapassou todos os seus limites, porque essa pessoa foi escolhida antes, e trouxeram espantalhos para que falem", declarou ele em sua loja e se referindo a Raisi.
Tanto os comerciantes como os clientes do bazar ficaram desiludidos com a eleição e poucos estavam dispostos a falar por medo de consequências.
CULPADOS PELA SITUAÇÃO.
Enquanto parte da população culpa o sistema em geral pela situação crítica no país, durante a campanha os candidatos conservadores a atribuíram à má administração do governo do presidente moderado Hassan Rohani, que está no cargo desde 2013, e fizeram promessas de ajuda social que são difíceis de serem cumpridas.
O problema econômico deve-se em grande medida às sanções impostas pelos EUA ao Irã após a saída de Washington do acordo nuclear de 2018, mas fatores internos desempenham um papel mais importante no descontentamento geral.
Vários dos entrevistados, que pediram para não serem identificados, contaram que se sentem "presos" e "condenados a sofrer".
"Se protestamos, nos matam", lamentou um deles.
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