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Chile: Mais de 45 mil empregados paralisam estatal Codelco, maior empresa de cobre do mundo

Greve é protesto contra o fechamento da Fundición Ventanas - Javier Araos/AFP
Greve é protesto contra o fechamento da Fundición Ventanas Imagem: Javier Araos/AFP

Da EFE

22/06/2022 22h12Atualizada em 22/06/2022 23h30

Mais de 45 mil trabalhadores da estatal chilena de mineração de cobre Codelco, a maior do mundo, aderiram nesta quarta-feira à paralisação nacional convocada pelos sindicatos em protesto contra o fechamento da Fundición Ventanas, uma das 18 empresas que tornaram a baía de Quintero-Puchuncaví um dos lugares mais contaminados da América do Sul.

A paralisação coincidiu nesta quarta-feira com o anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Mario Marce, da assinatura de um plano de reinvestimento que prevê a injeção de 30% dos lucros durante quatro anos e procura evitar que os trabalhadores da Fundición Ventanas percam os empregos.

No entanto, os sindicatos acreditam que esta é uma "decisão improvisada" do presidente Gabriel Boric, que já na campanha eleitoral prometeu acabar com esta e outras "áreas de sacrifício" industriais nas quais a vida humana não é saudável.

A greve começou na terça-feira, mas só hoje ganhou maiores dimensões. Isto acontece apenas duas semanas após um novo pico de poluição excessiva ter causado a intoxicação de quase 150 pessoas, a maioria crianças, forçando o fechamento de escolas e paralisando novamente a vida cotidiana.

BARRICADAS E BLOQUEIOS DE ESTRADAS

Nesta madrugada, representantes de 26 sindicatos se reuniram nos arredores do complexo industrial levantando barricadas, incendiando madeiras e pneus, e tentando cortar o trânsito e o acesso às divisões de trabalho.

A decisão da direção da estatal e do governo "não mede os efeitos sociais que tem sobre uma comunidade que viveu em torno desta indústria na baía de Quintero e Puchuncaví", disse a Federação dos Trabalhadores do Cobre (FTC).

"O início do fechamento (da Fundición Ventanas) não é apoiado nem justificado por nenhum relatório "técnico, científico ou acadêmico" que demonstre a relação de causa e efeito da liberação de dióxido de enxofre com a poluição e a intoxicação de pessoas", disse a organização em comunicado.

A FTC disse que a resolução de fechamento "não toca em nenhuma das outras empresas do Complexo Industrial e, portanto, é uma discriminação arbitrária contra os trabalhadores da empresa pública".

ZONA DE SACRIFÍCIO AMBIENTAL

A baía de Quintero-Puchuncaví, 160 quilômetros a noroeste de Santiago, foi declarada "zona de sacrifício ambiental" em 1993, um trecho pouco saudável de oito quilômetros de praia onde se concentram 18 fábricas, descarregando quantidades de poluição na atmosfera e no mar que não são compatíveis com a vida humana.

Desde 2005, a Codelco investiu cerca de US$ 156 milhões para cumprir vários regulamentos ambientais, dinheiro que não foi utilizado para reduzir as emissões de dióxido de enxofre (SO2), de acordo com dados fornecidos pelo governo à imprensa local.

O governo estima que seriam necessários mais de US$ 1,15 bilhões para cumprir as normas internacionais.

O Chile, principal exportador mundial de cobre, é responsável por 28% da produção mundial e conta com a presença de gigantes como BHP, Anglo American e Antofagasta Minerals.

As atuais mobilizações ocorrem em um contexto econômico internacional marcado pelo declínio do cobre e pela constante subida do dólar, cuja previsão é que continue a bater recordes durante estes dias.

A mineração, que representa cerca de 10% do produto interno bruto (PIB) nacional, desempenha um papel fundamental na recuperação econômica do país desde a pandemia de covid-19.