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Na ONU, ministro do Trabalho é acusado de 'golpista' por sindicatos

O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira - Alan Marques/ Folhapress
O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira Imagem: Alan Marques/ Folhapress

Jamil Chade, correspondente

Genebra

14/06/2017 14h08

Sindicatos brasileiros e estrangeiros protestam na ONU (Organização das Nações Unidas) contra o governo de Michel Temer e, dentro do salão principal da assembleia, gritaram "Fora, Temer" e acusaram o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, de "golpista".

Os manifestantes usaram o discurso do chefe da pasta do Trabalho para protestar, sendo retirados pelos policiais da ONU. Durante sua presença nas Nações Unidas, Nogueira ainda foi sempre acompanhado por um segurança.

Com a presença de delegações brasileiras também representando os empregadores e o governo, o protesto dos sindicatos acabou se transformando em uma troca de ofensas. Alguns dos representantes dos empresários acusaram os sindicalistas de "salafrários" e outras ofensas, com o dedo apontado.

O ministro, ao terminar seu discurso, não se pronunciou sobre o incidente e sua assessoria indicou que, por conta de uma "agenda muito apertada", somente poderia falar com a reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" na quinta-feira (15).

Em nota divulgada mais tarde pelo ministério, o Ministro disse que "entende como normais as manifestações que ocorreram durante sua fala por duas pessoas que representam sindicatos", mas que "foram específicas de trabalhadores ligados a movimentos sindicais com clara conotação política de oposição ao governo".

Nogueira classificou a manifestação como "legítima" e diz que respeita opiniões "sejam elas divergentes ou não", mas que "são grupos que não querem ver o Brasil mudar".

Discurso

Em seu discurso, Nogueira insistiu que o Brasil tem uma "democracia consolidada" e que o país precisa "avançar mais" na proteção ao trabalhador. O ministro defendeu a reforma apresentada pelo governo e insistiu que um diálogo social tem ocorrido.

"O futuro do trabalho exige novos modelos de contratação, flexíveis o suficiente para se adaptarem às mudanças dos novos tempos."

"A modernização da legislação trabalhista apresentada pelo governo, construída com base em amplo diálogo social, foi fundamentada em três eixos: consolidar direitos, segurança jurídica e geração de empregos", disse Nogueira. Segundo ele, mais de 60 reuniões foram realizadas com a participação da sociedade para debater a proposta.

Na terça-feira (13), Antonio Lisboa, representante da CUT (Central Única dos Trabalhadores), foi quem discursou na Assembleia Geral da OIT em nome dos trabalhadores brasileiros.

Em pouco mais de quatro minutos, repetiu dez vezes a palavra "golpe", numa referência ao desastre ambiental de Mariana, a violência contra ativistas, contra índios, ao falar sobre a reforma trabalhista, previdenciária, corte de orçamento e a atitude do governo sobre as manifestações em Brasília. "E ainda dizem que não houve golpe no Brasil", completou.

Seu discurso foi acompanhado pelas demais centrais sindicais que, ao final do pronunciamento, entoaram gritos de "Fora, Temer" na sala principal da ONU.

A plateia ainda incluía entidades patronais e representantes do Ministério do Trabalho. A embaixadora brasileira na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, não esteve presente. Mas ao cruzar com Lisboa num dos portões da Nações Unidas, o cumprimentou dizendo: "Ouvi dizer que o senhor falou forte."

O Brasil pediu direito de resposta à OIT para rebater as acusações do sindicalista.