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Com dívida de R$ 3,8 bi, Triunfo depende de acordo para evitar recuperação

Renée Pereira

São Paulo

22/06/2017 09h08

Mesmo com a venda do terminal Portonave por R$ 1,3 bilhão, anunciada na segunda-feira, a Triunfo Participações e Investimentos (TPI) ainda depende de um acordo com os credores para respirar aliviada e se livrar de uma recuperação judicial. No total, a empresa deve ao mercado R$ 3,8 bilhões, sendo que parte desse montante passa por renegociação. O ‘Estado’ apurou que as negociações podem ser concluídas na semana que vem.

O acordo envolve quase 20 credores financeiros e deve acelerar a venda de outros ativos do grupo. Além do terminal portuário, a Triunfo tenta se desfazer da participação na empresa Tijoá - concessionária responsável pela exploração da Usina Hidrelétrica de Três Irmãos - e no Aeroporto de Viracopos, onde é sócia com o grupo UTC, envolvido na Operação Lava Jato. Fontes ouvidas pelo Estado afirmam que a negociação com os credores tenta garantir que parte do dinheiro da venda da Portonave para a seja usada para dar fôlego à companhia.

Desde o ano passado, a empresa vem atravessando grave crise financeira com a piora do cenário econômico e fechamento do mercado de crédito brasileiro. Em fevereiro deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que faria a execução de garantias de dois empréstimos pontes concedidos às controladas da Triunfo: R$219 milhões da concessionária de rodovias Concer, vencidos em novembro de 2016; e R$ 760 milhões da Concebra, vencida em dezembro de 2016.

Segundo o balanço do primeiro trimestre da companhia, R$ 1,8 bilhão em dívidas vão vencer até o fim deste ano e outros R$ 211 milhões em 2018. Sua dívida líquida equivale a 3,4 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos e depreciação) - indicador que sempre trouxe preocupação aos analistas de mercado. Mas esse número já foi pior: em dezembro de 2016, equivalia a 4,2 vezes o Ebtida.

A grave crise financeira não é a primeira nos 17 anos de operação da TPI. Em 2008, durante a crise mundial, a empresa não conseguiu apresentar as garantias de uma licitação e perdeu a concessão de uma rodovia. Depois disso, no entanto, ela engatou várias empreitadas. Abriu capital na bolsa de valores, fez emissões no exterior, aumentou sua participação nas áreas de portos, aeroportos e virou a terceira maior administradora de rodovias do Brasil, atrás apenas da CCR e da espanhola Arteris. Mas durante todo esse tempo a capacidade financeira da TPI foi colocada em xeque. A escalada da dívida da empresa era o que mais incomodava. Em 2010, a dívida da empresa era de R$ 525 milhões.

Concessão a vencer. No ano passado, a receita líquida da empresa ficou em R$ 1,47 bilhão ante R$ 1,62 bilhão de 2015. Desse montante, 75% vem das concessões rodoviárias. Nessa área, no entanto, a empresa vive outra incógnita. No dia 4 de julho, vence a concessão da Concepa, empresa que administra 121 quilômetros das BRs 101 e 290, no Rio Grande do Sul.

O Ministério dos Transportes afirma que, para que não haja descontinuidade na prestação de serviço à população, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está estabelecendo os procedimentos necessários para promover a extensão do prazo contratual até que um novo leilão seja feito. O prazo pode ser de até 24 meses.

Mas o Estado apurou que a 13 dias do fim da concessão - ou nove dias úteis - nenhum aditivo foi feito. Para prorrogar a concessão, a agência precisa apresentar os termos desse novo contrato à empresa. Sem isso, no dia 4 de julho, a Triunfo é obrigada a deixar a administração da rodovia. Só nas praças de pedágio da região metropolitana de Porto Alegre passam cerca de 110 mil veículos por dia.

O Ministério afirma que o cronograma estabelecido pelo Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) estima a realização do leilão no segundo semestre de 2017. Procurada, a Triunfo preferiu não se manifestar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.