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'2019 será o ano da verdade para o Brasil', diz economista do JP Morgan

Fábio Alves

27/03/2018 07h10

A Bolsa brasileira caminha para ter um desempenho muito positivo em 2018, apesar da volatilidade que as eleições presidenciais podem causar, na visão de Emy Shayo, estrategista para América Latina e Brasil do banco americano JP Morgan. Ela tem uma recomendação de compra da Bolsa brasileira, baseada num cenário externo benigno e na perspectiva de um crescimento forte nos lucros das empresas brasileiras. No seu cenário mais otimista, o Ibovespa pode chegar a 97.100 pontos ao fim de 2018. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O JP Morgan tem uma recomendação de compra para a Bolsa brasileira? Por quê?

No JP Morgan, gostamos de dizer que os investidores em mercados emergentes são turistas do crescimento. Temos observado que as economias emergentes têm crescido acima das dos países desenvolvidos. Onde entra o Brasil nisso? Entre todos os países emergentes, principalmente os mais relevantes, o Brasil está apresentando o maior delta de crescimento: o PIB cresceu 1% no ano passado e deve crescer 3% neste ano, que é a nossa estimativa. Essa diferença de 2 pontos torna o Brasil muito atraente em termos de investimentos. Comparando com outros mercados emergentes, a Bolsa brasileira oferece a maior perspectiva de crescimento de lucros das empresas.

Como as eleições presidenciais podem afetar a Bolsa ao longo deste ano?

A corrida presidencial pode afetar a Bolsa em particular pelo grande nível de incerteza. Não sabemos quem pode chegar ao segundo turno nem ao menos quem são os candidatos hoje. Mas uma mensagem importante é a seguinte: os investidores estrangeiros acreditam que as pessoas no Brasil já entenderam que as reformas são necessárias. E mesmo os principais candidatos têm, de uma forma ou de outra, uma plataforma reformista. Pode-se dizer que, obviamente levando em conta as diferenças entre os candidatos, de um jeito ou de outro, o resultado das eleições será um que estará no caminho das reformas.

O que vai pesar mais na Bolsa, o cenário externo ou fatores locais, como as eleições?

Até a metade do ano, no mínimo, as questões globais ainda vão ter um peso importante, exatamente por esse nível elevado de incertezas em torno das eleições presidenciais.

Em março, até o dia 20, os investidores estrangeiros já haviam retirado quase R$ 4,5 bilhões da Bolsa brasileira. Como explica isso?

Assim como a nossa recomendação para a Bolsa, os investidores estrangeiros estão com uma posição de compra ou "overweight" no Brasil, isto é, tem uma alocação maior do que recomendaria o índice. O que talvez esteja acontecendo é que os investidores estrangeiros talvez estejam retirando dinheiro do mercado ativo, isto é, de compras diretas de ações, como se pode observar nos dados reportados pela B3, porém estão com uma carteira mais balanceada, uma vez que estamos observando uma certa criação de ETFs. Não ameniza esse grande fluxo que estamos vendo de saída na B3, mas não acho que seja preocupante, pois estamos vendo um fluxo forte para fundos de mercados emergentes. Em 2018, já entraram US$ 41 bilhões em fundos de mercados emergentes. Em 2017, foram US$ 80 bilhões. O Brasil corresponde a 7,5% do índice de mercados emergentes. Então não é possível que dinheiro esteja entrando nos mercados emergentes e não chegue ao Brasil.

Nos últimos dias, o Ibovespa tem tido muita dificuldade de subir e superar a resistência dos 87 mil pontos. Mas após as reuniões de política monetária do Fed e do Copom, que foram favoráveis aos ativos de risco, até onde o Ibovespa pode chegar?

No JP Morgan, trabalhamos com bandas para a Bolsa. Aos 87 mil pontos, o Ibovespa está no cenário base (86.400 pontos) que traçamos em novembro passado. Jamais imaginei que em março a Bolsa já atingiria o nosso cenário base. O que aconteceu? O crescimento da economia mundial foi melhor que o esperado, levando a um aumento dos preços de commodities. E o Ibovespa tem um peso importante de commodities, mesmo comparado aos outros mercados emergentes. A Bolsa brasileira é a que tem maior peso de commodities no índice, mais do que a Rússia até. O nosso cenário otimista para o Ibovespa é de 97.100 pontos no fim deste ano. O pessimista é em torno de 65.300 pontos. Fazemos uma revisão dos nossos "targets" (alvos ou metas) duas vezes ao ano, em novembro e em junho, e acredito que teremos uma revisão para cima, exatamente pelo desempenho dos preços de commodities, os quais não estavam no nosso tabuleiro quando traçamos as expectativas para este ano.

Tudo indica que 2018 será um ano positivo em termos de desempenho da Bolsa. E para 2019? Sem aprovar a reforma da Previdência, é possível a Bolsa manter o fôlego de alta?

2019 será o ano da verdade para o Brasil. Precisamos ter alguém que venha e confirme que o País vai cuidar das suas contas fiscais. O que está em jogo nesta eleição é o Brasil poder manter esse ciclo de juros estruturalmente baixos. É normal se houver um aperto monetário de, digamos, 1 ou 2 pontos porcentuais, o que é normal no ciclo de negócios. O importante é não voltarmos a ter juros elevados como havia antes. Para isso acontecer, tem que mexer no fiscal. O Brasil não vai tolerar passar 2019 sem ter mudanças importantes na área fiscal. Por isso, a reforma da Previdência é essencial. Apesar de termos falado sobre ela em 2017 inteiro, puxamos esse tema para frente, entendo que não houve acordo político para sua votação num ano eleitoral, mas isso vai ser cobrado no dia seguinte à votação do segundo turno das eleições. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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