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IPCA-15 confirma quadro de inflação comportada, mas não muda percepção dos juros

Thaís Barcellos e Francisco Carlos de Assis

São Paulo

20/04/2018 16h49

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) ficou mais uma vez abaixo da mediana do mercado, mas o desvio não foi suficiente para mudar a percepção da maioria dos analistas de que o Banco Central deve encerrar o ciclo de queda da Selic em maio, com a taxa em 6,25%. Diante da inflação baixa e da economia sem vigor, algumas instituições reduziram suas projeções para o IPCA deste ano, que estão se concentrando próximo de 3,5%.

O IPCA-15 acelerou de 0,10% em março para 0,21% em abril, situando-se abaixo da mediana de 0,25% do Projeções Broadcast, mas dentro do intervalo que ia de 0,13% a 0,31%. Como repetiu a taxa de abril do ano passado, o indicador também foi o mais baixo para o mês desde 2006 (0,17%). Em 12 meses, prosseguiu com acumulado de 2,80%, continuando abaixo de 3%, piso da meta, cujo centro é de 4,5%.

"Esse resultado foi o segundo menor para um mês de abril da história do IPCA-15, ajudando a compor o menor primeiro quadrimestre da série (1,08%), ficando quase 15 pontos base abaixo do segundo colocado (1,22% em 2017)", completa, em relatório, o Banco Safra.

Além disso, citam os economistas, os núcleos e demais taxas de inflação subjacente seguem bastante comportados. Ainda que a maioria desses grupos tenham avançado na margem, em 12 meses, com exceção dos administrados, seguiram desacelerando.

O economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, ressalta que a variação de 0,24% calculada para a média dos núcleos é bem baixa e reforça a recuperação econômica lenta. Teles também afirmou que houve surpresas para baixo em itens de Serviços, que são mais sensíveis ao ciclo econômico, como aluguel (0,02% para -0,39%) e passagem aérea (-15,33% para -2,69%).

Os preços de alimentos, que continuaram em queda no domicílio (-0,29% para -0,05%), também seguem contribuindo para o cenário de inflação baixa. O grupo Alimentação e Bebidas subiu 0,15% após recuo de 0,07%. E os economistas acreditam que os problemas de exportação da carne de frango devem retardar o efeito da alta do atacado, principalmente em grãos, sobre os preços de produtos alimentícios aos consumidores.

"O frango já está mexendo em toda a cadeia. Tanto que os preços das carnes estão com deflação de 1%", disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal. No IPCA-15, frango inteiro caiu 3,23% após -1,35% em março e já acumula queda de 9,18% em 12 meses. Já o subgrupo carnes teve queda de 1,03% ante recuo de 0,66% e tem redução de 2,45% em 12 meses.

Na quinta-feira, 19, a União Europeia anunciou embargo a 20 frigoríficos brasileiros. O revés é mais um capítulo negativo para o mercado de carnes brasileiros após a deflagração da primeira fase da Operação Carne Fraca, em março de 2017.

Essa dinâmica dos alimentos e a relativa surpresa com o número do IPCA-15 provocaram revisão na projeção do economista Luiz Castelli, da GO Associados, para a inflação oficial do ano, de 3,65% para 3,4%. A LCA Consultores também reduziu a estimativa de 3,7% para 3,5%.

O Banco Safra e o Itaú Unibanco, contudo, mantiveram suas projeções em 3,8% e 3,5%, respectivamente.

"Os desvios da abertura da divulgação de março não têm impacto relevante em nossas projeções de curto prazo, o que nos conduziu a manter a projeção para o IPCA 'fechado' do mês em 0,29%, sustentando a projeção do ano em 3,8%", explicou o Safra. Teles, do Itaú, acrescentou que há riscos à frente, como o cenário eleitoral e o comportamento do câmbio.

O Banco MUFG Brasil avaliou, em nota, que o enfraquecimento do Real deve ter impacto limitado sobre os preços, uma vez que a atividade econômica está fraca e a capacidade de produção ociosa ainda é alta. Para o IPCA de abril, a instituição espera alta de 0,31%, com a expectativa de aumento dos alimentos, e, para o ano, de 3,8%.

Essa inflação controlada reforça o cenário de novo corte de juros em maio, levando a Selic a 6,25%, mas ainda não tem força suficiente para promover redução adicional depois do mês que vem, disseram os economistas. "Acho que, por ora, não é suficiente, porque o Banco Central já disse que começa a olhar cada vez mais para 2019. E, dado o cenário eleitoral, a volatilidade e o câmbio, há uma tendência de uma postura mais conservadora", argumentou Castelli, da GO.

Da mesma forma, o economista-chefe da Ethica Asset, Rafael Ihara, acredita que o BC deve interromper o ciclo de queda para avaliar os efeitos do forte estímulo monetário diante também das incertezas domésticas e externas, mas pode manter a Selic em 6,25% até os últimos meses de 2019. "A dinâmica inflacionária está muito boa. Apesar da recuperação da atividade, há ociosidade grande na economia e o BC não deveria ter pressa em pensar em um ciclo de alta."