O mineroduto de problemas da Anglo
Para os investidores da Anglo, o embarque era a esperança de que os problemas que tinham provocado estouros no orçamento, atrasos no cronograma e a demissão da presidente global da empresa, Cynthia Carroll, por "diferenças de opinião" com acionistas, tinham chegado ao fim. O pesadelo, no entanto, estava longe de terminar. O Minas-Rio acumulou prejuízo atrás de prejuízo e perdeu US$ 11,3 bilhões em valor de mercado, sendo avaliado em US$ 4,2 bilhões no fim de 2017. Depois de fechar o ano passado pela primeira vez no azul, 2018 começou e, em vez da confirmação da recuperação, vieram novos problemas.
Às 7h42 do dia 12 de março, técnicos da Anglo identificaram um vazamento no mineroduto em Santo Antônio do Grama, cidade de 4 mil habitantes a 230 km de Belo Horizonte. Até o fim daquele dia, segundo a empresa, 95% do vazamento seria contido.
Mas os estragos estavam feitos. Cerca de 300 toneladas de uma mistura formada por minério de ferro com água contaminaram um córrego da região, prejudicando o abastecimento de água para os moradores. No dia 27, o mineroduto foi reaberto. Dois dias depois, às 18h55, novo vazamento é identificado, despejando quase 650 toneladas de material. Em resposta ao segundo incidente, a Anglo anunciou a paralisação das atividades por 90 dias. Órgãos ambientais aplicaram multas que, somadas, chegam a R$ 200 milhões.
Prejuízo
O impacto da paralisação não será pequeno. Especialistas no setor dizem que a interrupção das atividades vai prejudicar os resultados da empresa. Segundo cálculos da Tendências Consultoria, 10 milhões de toneladas de minério de ferro deixarão de ser produzidas. Para dar uma ideia do prejuízo, no ano passado o Minas-Rio produziu 16,8 milhões de toneladas de minério de ferro. "O vazamento compromete os resultados da empresa e a retomada da produção será gradual", diz Yasmin Freitas, analista de mineração da Tendências.
Ruben Fernandes, presidente da Anglo American no Brasil, diz que o trabalho agora é investigar o que provocou os vazamentos e impedir novos acidentes. "Queremos concluir os trabalhos o quanto antes para ter de volta a licença de operação."
Depois disso, o foco será iniciar a Fase 3 do projeto Minas-Rio, que vai permitir explorar outras regiões da mina. As primeiras licenças ambientais para isso foram obtidas em janeiro. "Com ela, teremos no mínimo 15 anos de operação com capacidade de produzir 26,5 milhões de toneladas de minério a partir de 2020", diz Fernandes.
Qualquer previsão a respeito do Minas-Rio, porém, é no mínimo uma tarefa arriscada. Desde que foi comprado em 2007 da MMX, uma das empresas de Eike Batista, o Minas-Rio sofre com toda série de imprevistos que resultaram em muitos atrasos. A expectativa inicial era que as primeiras toneladas de minério de ferro das minas de Itapanhoacanga e Serra do Sapo fossem exportadas no fim de 2010. O comando da empresa, porém, não previa as dificuldades para obtenção das licenças exigidas para um projeto desse porte. No fim do ano seguinte, o novo cronograma admitia de 12 a 15 meses de atraso em razão da burocracia na obtenção de licenças, além de dificuldades na negociação com os donos das terras que precisavam ser desapropriadas para a construção do mineroduto. Só em 2009 foram obtidas 21 licenças diferentes.
Obstáculos
Ao longo da obra, a Anglo teve de enfrentar danos causados pelas chuvas, aumento dos custos da obra e resistência de moradores das áreas afetadas. "Os impactos da instalação do mineroduto foram grandes e geraram diversas reclamações dos moradores", diz o promotor Marcelo Mata Machado, do Ministério Público de Minas Gerais, que acompanha o projeto.
Como resultado de tantas adversidades, os ativos da Minas-Rio foram perdendo valor de mercado e, no fim do ano passado, acumulavam perda de US$ 11,3 bilhões, registrada por auditores no balanço da empresa. Fernandes diz que essa baixa é temporária. "Quando o projeto atingir a capacidade de produção de 26,5 milhões de toneladas, o valor vai subir muito." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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